quinta-feira, 23 de maio de 2019

Desgooglando-se (Parte 2)


Google é uma ameaça à privacidade e a própria vida cotidiana de seus usuários. Por quê ? Porque a Google perfila seus usuários. E, como isso começou ?


Perfilar para melhor servir..(?)

Para apresentar melhores resultados nas buscas, a Google começou a perfilar seus usuários. E, graças a isso, os resultados de busca foram melhorando com o passar dos anos.
Mas, a Google precisava de uma forma melhor de captar as informações pessoais dos usuários, para trabalhar melhor os resultados de busca. E, que melhor maneira do que fazer os próprios usuários cederem seus dados à Google ?
Assim, em 2004, nascia o Gmail, o qual foi o início da suíte de escritório da Google(G-suite), e, inicialmente, um serviço que só aceitava usuários por convite(num período em que funcionou como beta), foi aberto ao público em geral em 2009, cinco anos depois.
E assim, a Google começou a perfilar os usuários de seu serviço de busca, através de seu serviço de e-mail.
Para se ter uma ideia de como o perfilamento funciona, experimente fazer uma busca logado na sua conta da Google, e, a mesma busca deslogado, para ver como os resultados ficam diferentes.


Como funciona a leitura de e-mails do Gmail(e, caia pra trás agora)

Os servidores de e-mail do Google verificam automaticamente os e-mails para várias finalidades, incluindo a adição de anúncios contextuais ao lado de e-mails e a filtragem de spam e malware. Essa é a versão oficial do porquê suas mensagens são lidas. Mas, as inocentes e nobres causas podem levar a consequências bem mais sombrias.
Defensores da privacidade levantaram preocupações sobre essa prática; preocupações incluem que  o conteúdo de e-mail seja lido por uma máquina (em oposição a uma pessoa), pode permitir que a Google mantenha quantidades ilimitadas de informações para sempre; a verificação automatizada de dados em segundo plano aumenta o risco de que a expectativa de privacidade no uso de e-mail seja reduzida ou corroída; as informações coletadas de e-mails podem ser retidas pela Google por anos após sua relevância atual, para criar perfis completos dos usuários. E-mails enviados por usuários de outros provedores de e-mail são verificados, apesar de nunca terem concordado com a política de privacidade ou termos de serviço da Google; A Google pode alterar sua política de privacidade unilateralmente e, para pequenas alterações na política, pode fazê-lo sem informar os usuários; em casos judiciais, governos e organizações podem achar mais fácil monitorar legalmente as comunicações por e-mail; a qualquer momento, a Google pode alterar as políticas atuais da empresa para permitir a combinação de informações de e-mails com dados coletados do uso de outros serviços; e qualquer problema de segurança interna nos sistemas do Google pode expor muitos - ou todos - seus usuários.

Tanto que, em janeiro de 2010, a Google detectou um ataque cibernético “altamente sofisticado” em sua infraestrutura originária da China. Os alvos do ataque foram os ativistas chineses de direitos humanos, mas o Google descobriu que contas pertencentes a ativistas europeus, americanos e chineses por direitos humanos na China foram “rotineiramente acessadas por terceiros”. Assim, os dados coletados pela Google foram abusados pela ação de terceiros.

A Google, em 23 de junho de 2017,  anunciou que, no final de 2017, eliminaria gradualmente a varredura de conteúdo de e-mail para gerar publicidade contextual, contando com dados pessoais coletados por meio de outros serviços seus. A empresa afirmou que essa alteração visava esclarecer suas práticas e diminuir as preocupações dos clientes empresariais do G Suite, que sentiam uma distinção ambígua entre o consumidor livre e as variantes profissionais pagas, sendo este último livre de publicidade.

Porém, o grifo acima demonstra que, em vez de diminuir, a intromissão da Google aumentou, por causa de todos os produtos que a  Google oferece, e, sua capacidade de monitorar o uso desses serviços.
A Google cria muitas ferramentas que são úteis para usuários e administradores, mas elas são projetadas para coletar dados sobre usuários e criar o máximo possível de um perfil, que é vendido a anunciantes, governos, outros intermediários de dados ou qualquer outra pessoa que queira pagar. A diferença é que o método que a  Google usa é a agregação.

Vou listar alguns  serviços e produtos populares(e, alguns até transparentes para o usuário final) da Google que perfilam seus usuários, e, auxiliam a empresa a catalogar os hábitos e ações on line daqueles que os usam.


Google AMP(Accelerated Mobile Pages)

O Google AMP é um serviço que armazena dados, geralmente de mídia, em servidores da Google em todo o mundo. Isso significa que, quando você carrega um website com AMP ativado, as imagens e a mídia vêm dos servidores da Google. Isso significa que, quando você visita um website com AMP ativado, a Google conhece todos os recursos que você carregou na página. Curiosamente, isso dá a Google acesso a substancialmente mais informações do que o seu provedor de internet poderia obter, porque a criptografia https impede que o provedor veja as páginas específicas que você visita. Eles só podem ver o domínio. Por exemplo, o seu ISP pode ver que você visitou o Reddit, mas não o que você visitou no Reddit. O conteúdo vinculado do Google AMP no Reddit (e há uma tonelada dele) dá ao Google um link direto de IP - Conteúdo que eles podem documentar e usar para traçar o perfil do comportamento e da atividade do usuário.

Esse problema é generalizado. Os sites WordPress, que são o sistema de gerenciamento de conteúdo mais popular do mundo, têm o AMP ativado por padrão.

Pior ainda, o Google anunciou recentemente que os usuários de dispositivos móveis do Chrome nem saberão quando estão usando o conteúdo veiculado por amp. O Chrome ocultará o conteúdo  AMP por trás do URL original.


Google Analytics

O Google Analytics usa cookies e acompanhamento entre sites para identificar e acompanhar os usuários conforme eles percorrem a Web em suas rotinas diárias. O Google Analytics funciona atribuindo a um usuário um cookie com um número de identificação exclusivo e, a cada vez que um usuário acessa um site com o Google Analytics ativado, o Google registra essa atividade e vincula-o ao usuário com esse cookie específico. Muitas vezes isso é feito sem que o usuário esteja ciente.

Recentemente, o GDPR(General Data Protection Regulation) da União Européia criou muitos avisos para os usuários sobre esse tipo de software analítico, mas tem sido ineficiente em restringir seu uso porque o Google Analytics é tão onipresente que incomoda os usuários com avisos de cookies em quase todos os sites visitados. Muitos não seguem o GDPR e permitem que os usuários naveguem pelo site ou usem serviços sem rastreamento.


Google Cloud

Outro grande ponto de dados para o Google é o Cloud. A partir de 2018, a Google hospeda cerca de 9,5% de todo o conteúdo "nuvem" no Google Cloud (por receita, grande parte dos serviços em nuvem do Google é "gratuita" e eles podem hospedar muito mais por volume). Se você estiver usando um aplicativo ou website que usa a infraestrutura do Google Cloud, essa é outra linha direta para suas informações. Um usuário não concede ao Google permissão para reter dados sobre eles para usar os serviços do Google Cloud.


API do Google Maps

Toda vez que você visita o site de uma empresa e usa o Google Maps (e não uma captura de tela), ele usa a API do Google Maps. Esses dados são combinados com o Google Analytics para anexar informações de localização ao seu perfil do Google.


Google FireBase

O FireBase é uma ferramenta que permite aos desenvolvedores sincronizar facilmente dados entre diferentes sites, aplicativos e serviços. A ressalva é que esses dados são sincronizados por meio dos servidores da Google, que registram todos esses dados e fazem o perfil sem o conhecimento do usuário.

Google Chrome

O Google Chrome registra tudo que você pesquisou na Pesquisa da Google, todos os websites que visitou ou marcou, todos os vídeos do YouTube que você assistiu, todos os anúncios em que você clicou e quantas senhas foram preenchidas automaticamente pelo Google Chrome.

Esses hábitos de navegador registrados do Google Chrome incluem:
•  Tudo o que você pesquisou usando a Pesquisa da Google ou o YouTube
•  Seu histórico do YouTube
•  Quantas pesquisas da Google você fez durante este mês
•  Todos os sites em que você já clicou
•  Cada endereço de website que você inseriu na barra de endereço
•  Todos os sites que você já marcou
•  Todas as guias do Google Chrome que estão abertas em todos os seus dispositivos.
•  Quantas conversas do Gmail você teve
•  Os aplicativos que você fez o download da Chrome Web Store e da loja do Google Play
•  Suas extensões da Chrome Web Store
•  Suas configurações do navegador Google Chrome
•  Todos os endereços de email, endereços, números de telefone que definiu para preenchimento automático no Chrome
•  Todos os nomes de usuários e senhas que você pediu ao Chrome para salvar
•  Todos os sites que você pediu ao Chrome  para não salvar senhas

E, a partir do final de 2018, o Google Chrome loga você automaticamente ao acessar os sites da Google. Ou seja, quase mandatoriamente o usuário fica obrigado a compartilhar de sua atividade on line com a Google.


Dispositivos Android


Chegamos a um ponto muito importante, e, que também é o ponto, talvez, mais vulnerável da relação do usuário com a Google, já que o sistema operacional Android, a loja de aplicativos Google e a maioria (senão todos) dos serviços da Google (GSF: Google Service Framework) são uma fonte inesgotável de intromissão da empresa na vida pessoal dos seus usuários.

Para baixar e usar aplicativos da Google Play Store em um dispositivo Android, o usuário deve ter (ou criar) uma Conta da Google, que se torna um portal importante por meio do qual a Google coleta informações pessoais, incluindo nome do usuário, email e número de telefone. Se um usuário se registrar para serviços como o Google Pay, o Android também coletará informações do cartão de crédito, código postal e data de nascimento do usuário. Todas essas informações se tornam parte das informações pessoais de um usuário associadas à sua Conta da Google.

Além dos dados pessoais, o Chrome e o Android enviam informações para a Google sobre atividades de navegação e aplicativos para dispositivos móveis, respectivamente. Qualquer visita a uma página da Web é rastreada e coletada automaticamente sob as credenciais do usuário pela Google. Se o usuário fizer login no Chrome, o navegador também coletará informações sobre o histórico de navegação, senhas, permissões específicas do site, cookies, histórico de download e dados adicionais do usuário.

O Android envia atualizações periódicas para os servidores da Google, incluindo tipo de dispositivo, nome da operadora do serviço de celular, relatórios de falhas e informações sobre aplicativos instalados no telefone. Ele também notifica a Google sempre que algum aplicativo é acessado no telefone (por exemplo, a Google sabe quando um usuário do Android acessa o aplicativo do Uber).

As plataformas Android e Chrome coletam meticulosamente a localização do usuário e as informações de movimento usando uma variedade de fontes, conforme mostrado na figura abaixo.


Por exemplo, uma avaliação de “localização grosseira” pode ser feita usando coordenadas GPS em um telefone Android ou por meio de um endereço IP de rede de um laptop. A precisão da localização do usuário pode ser melhorada ainda mais (“boa localização”) através do uso de IDs de torres de celular próximas ou da varredura dos BSSIDs específicos do dispositivo ou identificadores do conjunto de serviços básicos, atribuídos ao chipset de rádio usado nos pontos de acessos Wi-F próximos. Os telefones Android também podem usar informações dos beacons Bluetooth registrados com a API Proximity Beacon da Google. Esses beacons não apenas fornecem as coordenadas de geolocalização do usuário, mas também podem identificar os níveis exatos do piso em prédios.

É difícil para um usuário móvel Android “recusar” o rastreamento de localização. Por exemplo, em um dispositivo Android, mesmo que um usuário desative o Wi-Fi, a localização do dispositivo ainda será monitorada por meio do Wi-Fi. Para evitar esse rastreamento, o Wi-Fi scanning deve ser explicitamente desativado em uma ação separada do usuário, conforme mostrado abaixo:


A onipresença dos hubs de Wi-Fi tornou o rastreamento de localização bastante frequente.
Por exemplo, num estudo conduzido pelo Professor Douglas C. Schmidt, da Vanderbilt University, durante uma curta caminhada de 15 minutos em volta de um bairro residencial, um dispositivo Android envia solicitações de localização para o Google. O pedido continha coletivamente aproximadamente 100 BSSIDs únicos de pontos de acesso Wi-Fi públicos e privados.

A Google pode verificar, com um alto grau de confiança, se um usuário está parado, andando, correndo, andando de bicicleta ou andando de trem ou de carro. Ela alcança isso rastreando as coordenadas de localização de um usuário do Android mobile em intervalos de tempo frequentes em combinação com os dados dos sensores de painel (como um acelerômetro) nos telefones celulares.

Mas, não pára por aí. Por conta da infra estrutura que os serviços da Google habilitam, há toda uma míriade de produtos da empresa que é usada diariamente por anunciantes e empresas de propaganda na internet.


Os produtos da Google voltados para anúncios e propagandas on-line

Uma fonte importante para os mecanismos de coleta de dados da atividade do usuário da Google são suas ferramentas voltadas para editores e anunciantes, como o Google Analytics, DoubleClick, Google AdSense, Google AdWords e AdMob. Estas ferramentas têm um alcance enorme, por ex. mais de um milhão de aplicativos para dispositivos móveis usam a AdMob, mais de 1 milhão de anunciantes usam o Google AdWords, mais de 15 milhões de websites usam o Google AdSense e mais de 30 milhões de websites usam o Google Analytics.

Existem dois grupos principais de usuários das ferramentas focadas em editores e anunciantes do Google:

    • Editores de sites e aplicativos, que são organizações que possuem sites e criam aplicativos para dispositivos móveis. Essas entidades usam as ferramentas do Google para ganhar dinheiro ao permitir a exibição de anúncios para visitantes em seus websites ou aplicativos, e melhorar o rastreamento e entender quem está visitando seus websites e usando seus aplicativos. As ferramentas do Google colocam cookies e executam scripts nos navegadores de visitantes do website que ajudam a determinar a identidade de um usuário, rastrear seu interesse no conteúdo e seguir seu comportamento on-line. As bibliotecas de aplicativos para dispositivos móveis do Google rastreiam o uso de aplicativos em celulares.

    • Os anunciantes, que são organizações que pagam para exibir banners, vídeos ou outros anúncios para os usuários enquanto navegam no Internetor usam aplicativos. Essas entidades aplicam as ferramentas do Google para segmentar perfis específicos de pessoas em anúncios para aumentar o retorno de seus investimentos em marketing (os anúncios mais bem segmentados geralmente geram taxas de cliques e conversões mais altas). Essas ferramentas também permitem que os anunciantes analisem seus públicos-alvo e avaliem a eficácia de sua publicidade digital, acompanhando quais anúncios foram clicados com que frequência e fornecendo informações sobre os perfis de pessoas que clicaram em anúncios.

Juntas, essas ferramentas coletam informações sobre atividades de usuários em websites e aplicativos, como conteúdo visitado e anúncios clicados. Elas trabalham em segundo plano - em grande parte imperceptíveis pelos usuários. A Figura abaixo mostra algumas dessas ferramentas principais, com setas indicando dados coletados de usuários e anúncios exibidos aos usuários.


Conclusões…

É assustador o grau de intromissão que a Google tem em nossas vidas, saibamos disso ou pior ainda, sem nada saber. Sem suspeitar, vivemos numa vitrine, onde anunciantes, grandes corporações e governos sabem de todos os nossos passos, nossos gostos, nossa orientação política e religiosa.
Nossos segredos não são mais nossos, mas, estão com as corporações agora: Google, Apple e Facebook sabem quando uma mulher visita uma clínica de aborto, mesmo que ela não diga a mais ninguém: as coordenadas de GPS no telefone não mentem. Casos extraconjugais são uma coisa fácil de se imaginar: dois smartphones que nunca se encontraram antes se cruzam em um bar e depois se dirigem para um apartamento do outro lado da cidade, ficam juntos durante a noite e partem pela manhã…

É um triste admirável mundo novo. Mas, nem tudo está perdido. É possível melhorar a privacidade e, levar uma vida mais reservada. Veremos como, no próximo artigo. Então, fiquem conosco que mês que vem tem mais.

Abração.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Desgooglando-se (Parte 1)


Quero começar este artigo com uma piada… É, é meio antiga, mas, mais atual do que nunca.

Google Pizza


 – Olá! Pizzaria do Gordon?
 – Não, senhor, é a pizzaria da Google.

 – Então é engano? Que pena.
 – Não senhor, a Google comprou a pizzaria.

 – Ok então, vou fazer o  meu pedido, pode ser ?
 – Quer o de sempre?

 – O  de sempre? Me conhece ?
 – De acordo com a nossa ficha de chamadas, nas últimas 12 vezes, você pediu  pizza de calabresa, muito queijo, massa grossa.

 – OK! É isso mesmo!
 – Posso sugerir-lhe desta vez ricota, rúcula com tomate seco..?

 – O quê? Odeio vegetais.
 – O seu colesterol não está bom, Senhor.

 – Como é que você sabe?
 – Cruzamos o número da sua linha fixa com o seu nome, através do Guia de assinantes.
Temos o resultado dos seus exames de sangue nos últimos 7 anos.

 – Está bem, mas não quero esta pizza! Já tomo medicamentos…
 – Desculpe, mas o senhor  não andou tomando o medicamento regularmente, a partir da nossa base de dados comercial, há 4 meses, só comprou uma caixa com 30 comprimidos de anti-colesterol na Drugsale Network.

 – Comprei mais de outra farmácia.
 – Não aparece no extrato do cartão de crédito.

 – Paguei em dinheiro.
 – Mas não sacou tanto dinheiro, de acordo com o extrato bancário.

 – Tenho outra fonte de dinheiro.
 – Isto não aparece na sua última declaração de renda, a menos que os tenha comprado de uma  fonte de renda não declarada.

 – MAS QUE RAIO?!?
 – Desculpe, senhor, usamos essa informação apenas com a intenção de ajudá-lo.

 – Chega! Estou farto de Google, Facebook, Twitter, WhatsApp. Vou para uma ilha sem internet, televisão por cabo, onde não tiver cobertura de celular e ninguém para me ver ou espiar.

 – Compreendo, Senhor, mas terá de renovar o seu passaporte primeiro, já que expirou há 5 semanas.

Assim, começamos essa série de artigos, que vão abordar como a Google nasceu, sua gênese oficial (e não oficial), suas ligações sombrias com as agências de inteligência americanas, como a Google rastreia você online,  e quais são as alternativas para os serviços que a empresa oferece.

É claro que não quero que pensem que há hipocrisia aqui, já que está sendo veiculado o artigo num site de propriedade da Google (Blogger). Também estou pensando em mudar meu blog para outra plataforma, então, não me acusem de hipócrita. Pensando bem, a Google era uma quando começou, mas, com o passar dos anos, ou se tornou outra coisa, ou suas verdadeiras intenções ficaram mais claras.


A gênese da Google

A Google nasceu quando dois estudantes de Ph. D da Universidade de Stanford, Larry Page e Sergei Brin, tiveram uma ideia para um motor de busca que rapidamente encontraria as informações mais pertinentes em um oceano de dados. Eles registraram o nome de domínio Google.com em 1997 e tornaram-na a empresa Google em 1998.
1997 foi um importante ponto de mudança para o motor de busca. Os criadores decidiram que poderia haver uma alteração no nome do motor de busca 'googol', que tem um significado matemático, bem como metafórico como o termo 'googol' indica uma grande quantidade de números sendo representados.
O domínio google.com foi registrado em 15 de setembro de 1997. Eles formalmente incorporaram sua empresa, Google, em 4 de setembro de 1998, na garagem de sua amiga Susan Wojcicki em Menlo Park, Califórnia. Wojcicki eventualmente se tornou uma executiva na Google e agora é o CEO no YouTube.

A garagem onde a Google nasceu 

O primeiro protótipo do Google foi o Backrub, que em 1996, era um motor de busca que funcionava em computadores da universidade Stanford e rapidamente suplantou seu servidor. Funcionou tempo suficiente, no entanto, para captar a atenção do co-fundador da Sun Micro Systems, Andy Bechtolsheim, e em 1998 ele investiu US$ 100.000 na ainda não formada empresa Google. Meses depois, a pequena startup que funcionava em uma garagem,  foi escolhida como o motor de busca top da revista PC Magazine de 1998. Apenas seis anos depois, em 2004, a venda da IPO da Google deu-lhe uma capitalização de mercado de mais de US $23 bilhões.

 Larry Page e Sergei Brin em 2003


O web crawler, BackRub, começou a explorar a  web em Março de 1996, com a página de Larry Page servindo como ponto inicial. Para converter os dados de backlinks que recolheu para uma determinada página web em uma medida de importância, Brin e Page desenvolveram o algoritmo PageRank. Ao analisar a saída do BackRub que, para um dado URL, consistia de uma lista de backlinks classificados por ordem de importância, o par percebeu que um mecanismo de busca baseado no PageRank produziria melhores resultados do que as técnicas existentes (motores de pesquisa existentes na época, essencialmente, classificavam os resultados de acordo com o número de vezes que o termo de pesquisa aparecia em uma página).

Convencido de que as páginas com mais links para eles a partir de outras páginas web altamente relevantes devem ser as páginas mais relevantes associadas com a pesquisa, Page e Brin testaram sua tese como parte de seus estudos, e lançaram as bases para o seu motor de busca. A primeira versão do Google foi lançada em agosto de 1996 no site de Stanford. Usou quase metade da largura de banda da rede de Stanford.
Nas palavras de seu fundador,  Larry Page:
“Algumas estatísticas aproximadas (de 29 de agosto de 1996)

Urls  HTML indexáveis totais: 75,2306 milhões

Conteúdo Total transferido: 207.022 gigabytes

BackRub é escrito em Java e Python e funciona em vários Sun Ultras e Intel Pentium executando Linux. O banco de dados primário é mantido em um Sun Ultra II com 28GB de disco. Scott Hassan e Alan Steremberg forneceram uma grande ajuda, numa implementação muito talentosa. Sergey Brin também esteve muito envolvido e merece muitos agradecimentos.”

IBM, Intel e Sun foram os patrocinadores de hardware para Sergey Brin e Larry Page. Além disso, eles  usaram GNU, Linux e Python como o software de fundação para o Google.


Este é o servidor usando apenas 300 MHz Dual Pentium II, 512MB de RAM e 9GB de disco rígido.

Em Março de 1999, a empresa mudou-se para escritórios na 165 University Avenue, em Palo Alto, lar de várias outras notáveis startups de tecnologia do Vale do Silício. Depois de ter crescido rapidamente dois outros locais, a empresa alugou um complexo de edifícios em Mountain View, no 1600 Amphitheatre Parkway, da Silicon Graphics (SGI), em 2003. A empresa tem permanecido neste local desde então, e o complexo tornou-se conhecido desde então como o Googleplex (um jogo na palavra googolplex, um número que é igual a 1 seguido de um googol de zeros). Em 2006, o Google comprou a propriedade da SGI por US $ 319 milhões.

No final de 1998, o Google tinha um índice de cerca de 60 milhões de páginas. a página inicial da Google ainda estava marcada como “BETA”, mas um artigo em Salon.com já afirmava que os resultados de pesquisa do Google eram melhores do que os de concorrentes como o Hotbot ou Excite.com, e elogiou-o por ser mais tecnologicamente inovador do que os sites de portal sobrecarregados (como o Yahoo!, Excite.com, Lycos, Netcenter da Netscape, AOL.com, Go.com e MSN.com) que naquela época, durante a crescente bolha da internet, eram vistos como “o futuro da Web”, especialmente pelos investidores do mercado de ações.

A home page da Google, em 1998


No início de 1999, Brin e Page decidiram que queriam vender a Google para a Excite. Eles ofereceram ao  CEO do Excite,  George Bell, vendê-la (a Google)  por US$1 milhão. Ele rejeitou a oferta. Vinod Khosla, um dos grandes investidores de capital de risco, fez com que a dupla baixasse para 750 mil dólares, mas Bell ainda assim rejeitou.
Em 2002, o Google começou a ajudar ainda mais as empresas com o seu Google Search Appliance e adicionou o preço por clique ao seu Adwords.

Em 2003, o Google adquiriu o Pyra Labs e anunciou o Google AdSense. A AdSense permite que as empresas se conectem com vastas redes de anunciantes. O Google também lançou o Google Grants, uma edição sem fins lucrativos do AdWords.
Em 2004, no 1º de Abril, o Gmail foi lançado, primeiro um serviço apenas por convite, agora tem mais de 425 milhões de usuários. Google também adquiriu Picasa. Além disso, o Google listou - se no mercado de ações, oferecendo ao público 19.605.052 ações de classe A a US$85 cada. Em dezembro a Google estabeleceu Google.org, que foi dedicada à ideia de que a tecnologia pode mudar o mundo.



Edifício da Googleplex, sede atual da Google

Assim, foram os primeiros anos da Google. E, esta foi a estória oficial, aquela que todos sabemos, aquela que está nos livros e revistas.
Mas… Não foi toda a história.

A história da Google, por detrás da história da Google…

Em meados da década de 1990, a comunidade de inteligência na América começou a perceber que eles tinham uma oportunidade. A comunidade da supercomputação estava apenas começando a migrar de ambientes universitários para o setor privado, liderado por investimentos de um lugar que viria a ser conhecido como Vale do Silício.

A coleta de informações pode ter sido o seu negócio, mas a Agência Central de inteligência (CIA) e a agência de Segurança Nacional (NSA) tinham vindo a perceber que o seu futuro seria provavelmente moldado fora do governo. Foi numa época em que os orçamentos militares e de inteligência da administração Clinton estavam em perigo, e o setor privado tinha vastos recursos à sua disposição. Se a comunidade de inteligência quisesse realizar vigilância em massa para fins de segurança nacional, exigiria cooperação entre o governo e as empresas emergentes de supercomputação.

Em 1999, a CIA criou a sua própria empresa de investimento em capital de risco, In-Q-Tel, para financiar startups promissoras que poderiam criar tecnologias úteis para as agências de inteligência.


Logo da In-Q-Tel

E, aqui começa a história obscura da Google. Em 1994, como vimos acima, dois jovens doutorandos da Universidade de Stanford, Sergey Brin e Larry Page, fizeram sua descoberta no primeiro aplicativo automatizado de rastreamento web e ranking de páginas. Brin e Page realizaram seu trabalho com financiamento da Iniciativa Biblioteca Digital (Digital Library Initiative), um programa multi-agência da National Science Foundation (NSF), NASA e DARPA. Ou seja, na fase de pesquisa, do que iria se tornar o mecanismo de buscas Google, já havia financiamento de agências de inteligência Americanas.

In-Q-Tel, a CIA jogando na iniciativa privada

Fundada em 1999 como uma forma de os EUA  acompanhar a rápida inovação em Ciência e tecnologia, In-Q-Tel tem sido um apoiador inicial de start-ups mais tarde adquiridas pela Google (GOOG), Oracle (ORCL), IBM (IBM) e Lockheed Martin (LMT).

Enquanto IQT originalmente servia em grande parte as necessidades da CIA, hoje a empresa oferece suporte a muitas das 17 agências dentro da comunidade de inteligência dos EUA, incluindo a National Geospatial-Intelligence Agency (NGA), a Agência de Inteligência de Defesa (DIA) e o Departamento de Segurança Interna de Ciência e Tecnologia.

E, a empresa age de forma semitransparente: A In-Q-Tel emite um comunicado de imprensa sempre que patrocina uma nova empresa, mas não divulga nem o montante do investimento nem o produto em que se concentra. Acredita-se que a relação pode levar ao desenvolvimento de produtos fora do mercado especificamente adaptados para a CIA. Um porta-voz de uma empresa financiada pelo In-Q-Tel disse à Forbes que o seu investimento se concentrava num projeto específico com um prazo de um ano, recusando-se a fornecer mais pormenores.

Muitas empresas listadas na página do site de investimento da In-Q-Tel são secretas. De Acordo com o Washington Post, "praticamente qualquer empresário americano, inventor ou cientista de pesquisa trabalhando em formas de analisar dados, provavelmente, recebeu um telefonema da In-Q-Tel, ou, pelo menos, foi pesquisado por sua equipe de observadores de tecnologia.
Aqui segue uma lista de empresas e projetos mantidos pela  In-Q-Tel(ao menos, aqueles visíveis ao público): https://en.wikipedia.org/wiki/In-Q-Tel#Investments

E qual a influência da  In-Q-Tel sobre a Google e seus produtos? Em 2004, a Google adquiriu a Keyhole Inc., a empresa que desenvolveu a tecnologia por trás do Google Earth, e, esta startup foi financiada pela In-Q-Tel.

A mesma tecnologia de base do Google Earth é atualmente empregada pelos sistemas militares e de inteligência dos EUA em sua busca, em suas próprias palavras, por “domínio de amplo espectro” do planeta.

Além disso, a ligação do Google com a CIA e a sua empresa de capital de risco estende-se à partilha de, pelo menos, um membro-chave do pessoal. Em 2004, o diretor de avaliação tecnológica do In-Q-Tel, Rob Painter, mudou-se de seu antigo trabalho diretamente ao serviço da CIA para se tornar “Gerente Federal Sênior” na Google.

Como disse Robert Steele, um ex-oficial da CIA: a Google está “na cama” com a CIA.

Mas, fica pior…

Dado a suposta  preocupação da Google  com os “direitos humanos” e com a privacidade do usuário, vale a pena notar que a revista Wired relatou há algum tempo que os amigos da Google na In-Q-Tel,  investiram na Visible Technologies, uma empresa de software especializada em monitoramento de mídias sociais.

A Visible Technologies pode examinar automaticamente mais de um milhão de discussões e postagens em blogs, fóruns online, Flickr, YouTube, Twitter, Amazon, e assim por diante todos os dias.
A tecnologia também “pontua” cada item on-line, atribuindo-lhe um estado positivo, negativo ou misto ou neutro, com base em parâmetros e termos definidos pelos operadores de tecnologia. A informação, assim resumida, pode então ser mais eficazmente digitalizada e lida por operadores humanos.
Há ainda o projeto Prism, onde a NSA coleta comunicações feitas pela internet, de diversas companhias de internet americanas, e, as quais foram expostas por Edward Snowden em 2013.

Assim, terminamos a primeira parte desta série de artigos, abordando as origens da Google e seus parceiros, tanto os visíveis, quanto os ocultos.

Continuem conosco, no próximo mês vamos abordar como a Google captura seus dados, monitora sua presença na internet e o que fazer para mitigar essa intromissão.


sábado, 23 de março de 2019

Stadia: O Bom, o Ruim e o Feio…

A Google pegou todo mundo de surpresa quando anunciou sua plataforma de videogames Stadia.
Anteriormente, a pesquisa da Google com videogames era conhecida como projeto Stream ou Yeti.
Mas, apesar da surpresa que foi o anúncio, os jogos via streaming, já existem há algum tempo. É claro que agora, eles estão mais em voga do que nunca.

Mas, antes de discorrer sobre o Stadia, vamos ver a história do chamado Cloud Gaming

 

Cloud Gaming, uma história de 19 anos…

Em 2000, a G-cluster demonstrou a tecnologia de jogos em nuvem na E3. A oferta original era o serviço de jogos em nuvem via Wi-Fi para dispositivos portáteis. A desenvolvedora de jogos de vídeo Crytek começou a pesquisar sobre um sistema de jogos em nuvem em 2005 para o jogo Crysis, mas interrompeu o desenvolvimento em 2007 para esperar até que os provedores de infra-estrutura e de cabo estivessem preparados para a tarefa.
OnLive lançado oficialmente em março de 2010, e seu serviço de jogo começou em junho com a venda de seu microconsole OnLive.  Em 2 de abril de 2015, foi anunciado que a Sony Computer Entertainment havia adquirido as patentes da OnLive, e a OnLive fechou suas portas.
Em novembro de 2010, a SFR lançou um serviço comercial de cloud computing na IPTV na França, com tecnologia G-cluster.  E no ano seguinte, a Orange France revelou seu serviço de jogos em IPTV baseado na tecnologia G-cluster.

O GeForce NOW é um serviço de streaming de jogos baseado em nuvem oferecido pela NVIDIA que foi lançado em 1º de outubro de 2015.

O Nvidia GRID é uma criação recente da Nvidia, voltada especificamente para os jogos na nuvem. O Nvidia GRID inclui processamento gráfico e codificação de vídeo em um único dispositivo que é capaz de diminuir a entrada para exibir a latência do streaming de videogames baseado em nuvem.  Isso é importante devido ao impacto que a latência terá entre o que o usuário faz e quando a ação é exibida na tela.

O Blade SAS Group lançou o Shadow, seu principal serviço de jogos em nuvem na França em novembro de 2011.  Em outubro de 2018, Shadow anunciou que estava vivo em 19 estados na costa leste e oeste dos EUA, com planos adicionais de expansão em todo o país.

A LOUDPLAY anunciou a expansão de seu serviço de jogos na nuvem para a Ucrânia, Bielorrússia e alguns outros locais da Europa Oriental em 18 de maio de 2018.  Em 21 de novembro de 2018, a LOUDPLAY em parceria com a Rostelecom e a Huawei demonstrou a primeira vitrine de jogos 5G na Europa (em Innopolis).

A Electronic Arts adquiriu a startup de jogos em nuvem Gamefly em 22 de maio de 2018. Alguns meses depois, em 29 de outubro de 2018, a Electronic Arts anunciou o projetos Atlas de jogos em nuvem.

O Google revelou o Project Stream em 1º de outubro de 2018. O projeto foi formalmente anunciado na Game Developers Conference em 19 de março de 2019 como Stadia.

A Microsoft apresentou o projeto xCloud em 8 de outubro de 2018.

E, o cloud gaming e streaming, também vem para preencher a lacuna tecnológica: A tecnologia anda mais rápido do que qualquer um pode acompanhar, e, com o aumento do preço de placas de vídeo (graças a mineração de cripto moedas), computadores melhores e placas mais potentes são bens que ficaram mais longe no horizonte de muitos aficionados por games.

Então, já faz 19 anos que se busca uma solução para jogos em nuvem. E agora, finalmente temos uma solução, em que uma empresa como a Google vai colocar toda a sua força de infraestrutura para que seja um sucesso.

 

Stadia: O Bom!

Imagine poder jogar jogos recentes, os chamados AAA, em qualquer aparelho que rode o Google Chrome ?
Você não precisa ter o sistema operacional Windows (o qual é o preferido para o lançamento de jogos assim), não precisa ter uma máquina superpotente, já que o jogo será transmitido em imagens para o dispositivo remoto, o qual estará em sua casa, e, poderá jogar em rede com seus amigos de forma transparente, já que o jogo rodará numa render farm da Google em algum datacenter ao redor do mundo.
Porém, a coisa vai além: Fazer vídeos de gameplays é algo bastante comum e faz bastante sucesso no You Tube. Com o Stadia, você poderá fazer gameplays ao vivo, on the fly, no momento em que estiver jogando, e fazer a transmissão sem nenhum recurso adicional, seja algum software, como o OBS ou placas de captura: Seu jogo, em tempo real, será transmitido pelo You Tube.
E mais, enquanto você estiver jogando, sendo o jogo multiplayer, você poderá convidar seus amigos a se juntarem ao seu jogo, bastando enviar um link para o jogo.

 

Como Funcionará ?

Qualquer aparelho com um sistema operacional que possa executar o You Tube poderá ser uma estação de jogos do Stadia. E, a Google promete que qualquer joystick USB-HID poderá ser usado. Mas, por uma questão de diminuir a latência, a Google recomenda que seja usado seu joystick proprietário, com conexão Wi-Fi, direto aos datacenters da Google, para melhorar a experiência do jogador.


O Joystick do Google Stadia

A vantagem do joystick Stadia é que o serviço poderá ser acessado pelo Chromecast e jogado em uma TV de tela grande, sem nenhuma conexão do joystick com o Chromecast. O Joystick estará conectado, via Wi-Fi ao datacenter da Google executando o jogo. O Joystick terá funções de chat e outras, interativas, acessíveis por botões adicionais no controle.
Outra funcionalidade de ter um joystick ligado diretamente ao jogo, é que será possível saltar de qualquer tela para outra tela e prosseguir jogando, de forma transparente e imediata (segundo Phil Harrison, chefe do projeto na Google).


               Segundo a Google, qualquer aparelho que rodar o You Tube poderá ser um receptor do Stadia

O Anúncio oficial

O Project Stream foi o primeiro sinal anunciado pela Google de interesse em produtos de videogame. Já havia rumores de que a Google trabalhava em um serviço chamado Project Yeti desde pelo menos 2016.
A Google também contratou o executivo da indústria de jogos Phil Harrison e foi vista recrutando desenvolvedores durante eventos do setor em 2018. O principal diferencial do Project Stream em relação aos serviços anteriores, como OnLive, GeForce Now e PlayStation Now, é sua capacidade de ser executado em qualquer navegador Chrome de desktop, em vez de plataformas de jogos específicas. O serviço usa hardware gráfico AMD Radeon.

Google anunciou o serviço em outubro de 2018 e logo depois, abriu convites para beta testers com acesso a Assassin's Creed Odyssey. Os jogadores podiam solicitar acesso e aqueles que atingiam um mínimo de velocidade de Internet podiam executar o jogo em seus navegadores Chrome.  Aqueles que participaram receberam uma cópia gratuita do jogo quando o período de testes acabou.
Os jogos disponíveis no anúncio do serviço foram  Assassin's Creed Odyssey e Doom Eternal.


                                      Stand do Google Stadia na Game Developers Conference


Stadia foi formalmente anunciado durante o discurso de abertura da Google na Conferência de Desenvolvedores de Jogos de 2019, em março de 2019.  Para apoiar a Stadia, a Google também anunciou a formação da Stadia Games and Entertainment, seu estúdio de criação para jogos originais, com Jade Raymond como líder. Além de desenvolver seus próprios jogos, a Stadia Games and Entertainment ajudará a apoiar a transição de títulos de terceiros para o serviço Stadia.
Harrison afirmou que “Somos baseados em Linux, usamos a API de gráficos Vulkan, o desenvolvedor desenvolve em nossa instância de nuvem, então os kits de desenvolvimento agora estão na nuvem. Na nossa nuvem, no datacenter privado do desenvolvedor ou em seu desktop”, afirmando a facilidade e disponibilidade do sistema para o desenvolvedor.
Uma coisa boa que poderá surgir daí, será o aprimoramento dos drivers Radeon no Linux, que, nunca foram tão bons quanto os da Nvidia.


O Não tão bom

Até agora, não há definição da Google sobre como o serviço funcionará. E, principalmente, como será a cobrança pelos serviços. Será cobrado por jogo, como a Steam ? Ou será cobrado como a Netflix ? Um aluguel mensal e a possibilidade do assinante jogar todo o catálogo do serviço ?
Outras coisas a considerar é que, no evento de anúncio do serviço, todos as telas rodando Assassin's Creed Odyssey estavam numa ambiente controlado, quase sem lag e nem latência. Como vai funcionar na vida real ? Com problemas reais de lag e latência ? E, será dependente de fibra ótica ?
É claro que  Phil Harrison garante que a Google está em posição de oferecer o serviço por ter uma grande infraestrutura de data centers ao redor do mundo.
Mesmo assim, houve momentos, na demonstração, onde a qualidade do vídeo foi reduzida, para manter-se a taxa de quadros, e, os famosos artefatos apareceram nas telas.
Mas, há outras questões pendentes, como e o data cap dos planos de internet ? Sim, dependendo do pacote de dados que for assinado com o provedor de internet, seu limite de dados no pacote será gasto rapidamente com este serviço (fora Netflix, You Tube, Hulu e outros). E então, a Google vai subsidiar os planos ?

O Ruim

O anúncio não poderia ter chegado em pior hora: A indústria de games passa por uma crise bem feia (não se compara com 1983), com muitas demissões e fechamento de postos de trabalho.
No final de fevereiro deste ano a loja digital GOG demitiu discretamente o que diz ser uma dúzia de funcionários. A GOG, que é de propriedade da editora The Witcher 3, CD Projekt, não disse por que as demissões aconteceram, mas um funcionário demitido disse ao site Kotaku que a loja estava com problemas financeiros.
No mesmo mês de fevereiro, a  Activision Blizzard demitiu 8% de sua força de trabalho, ou, 800 pessoas. No anúncio de resultados, o CEO da Activision Blizzard, Bobby Kotick, disse aos investidores que a empresa “mais uma vez alcançou resultados recordes em 2018”, mas que a empresa estaria se consolidando e reestruturando por causa das expectativas frustradas em 2018. Estaria cortando principalmente departamentos de desenvolvimento não relacionados a jogos e reforçando sua equipe de desenvolvimento para franquias como Call of Duty e Diablo.
A ArenaNet, o estúdio por trás dos populares jogos on-line Guild Wars e Guild Wars 2, também informou  aos seus funcionários que está planejando grandes demissões, de acordo com uma pessoa que está lá.

Então, no meio de uma crise com grandes empresas de entretenimento digital, o aparecimento de uma nova plataforma de vídeo games pode ser mais prejudicial do que benéfico, afinal com a utilização maciça de datacenters, muitas etapas do jogo eletrônico serão queimadas. Pensando em termos de fábricas de chips e placas eletrônicas, muitas se tornarão supérfluas.
Quanto a Google, quanto mais vertical, melhor, visto que a empresa não vai usar recursos de terceiros, mas, somente usar de seus próprios recursos.

Mas, por quê a indústria de videogames está em crise ?

Bem, pode-se especular sobre o que acontece com a indústria de games hoje em dia.
Com o passar dos anos, os jogos se tornaram maiores do que os filmes de Hollywood.
Sim, longe vão-se os tempos em que programadores solitários criavam jogos de videogames e estes eram um sucesso. River Raid e Carol Shaw ficaram no distante ano de 1982.


                 River Raid foi um sucesso da Activision no Atari, criado por uma única programadora, Carol Shaw

Com a evolução, tanto de software quanto de hardware, os jogos passaram a requerer uma produção com orçamentos maiores que a maioria dos filmes de Hollywood. Artistas de motion capture, atores para voice acting, roteiristas, diretores, pessoal de maquiagem, efeitos visuais, edição de som, em suma, equipes com mais de 20 pessoas para super produções que deixam muitos filmes indie com inveja. Uncharted 4 custou em torno de 50 milhões de dólares, fora os gastos com publicidade, para uma equipe de 150 profissionais.
Ora, a indústria de games está se espelhando nas produtoras cinematográficas e apostando em franquias: Os jogos podem ser caros para produzir, então, por quê arriscar ? Se há uma franquia, que o público reconhece e tem fãs fiéis, a cada ano se produz mais do mesmo e todos ficam satisfeitos: os fãs com os jogos e as produtoras com o retorno de seu investimento com lucros.

Seria ótimo, se não fosse o cansaço das franquias...

Sim, hoje em dia, este problema não afeta somente filmes. Como jogos estão indo na direção das franquias, a franchise fatigue é uma realidade. Hoje dia se veem 4, 5, 6 títulos sobre os mesmos personagens e estórias, a tal ponto que os fãs começam a perder o interesse. Alien Covenant foi um ótimo exemplo disso, um exemplar de franquia que os fãs deixaram de se importar com.
Quanto a games, Assassin’s Creed já está em sua 12ª versão, o referido  Assassin's Creed Odyssey e a pergunta que fica é: Existe tanta estória a ser contada assim ?
Jogos em franquias já sofreram com o cansaço: Need For Speed e Tony Hawk’s pro Skater são dois bons exemplos, de jogos que foram explorados à exaustão, e tanto, que hoje foram esquecidos.

O Feio

Bem, o que vou escrever aqui é especulação, mas, da observação de acontecimentos prévios, poderá acontecer.
Ora, a televisão como mídia de massa não mais se sustenta, e, as pessoas estão buscando experiências que sejam mais próximas delas: You Tube, Vimeo, e tantos outros serviços de vídeos pessoais, onde pessoas criam conteúdo para pessoas. Eu mesmo acompanho o jornalista Glen Grenwald, do site Intercept, e, penso que ele tem mais credibilidade do que muitos âncoras da TV tradicional.
Com o advento destes canais de comunicação, e, principalmente a medição das respostas das pessoas que os procuram, é possível perfilar os usuários, e, saber de suas preferências, seus gostos, quem são seus parceiros de jogo, com quem se relacionam e etc…
E, todos perfilados.
Com todas essas informações em mãos, o que poderia acontecer ? Quais manipulações poderiam ser feitas ? O affair Cambridge Analytica / Facebook está aí para nos mostrar até onde pode ir a manipulação das pessoas com base em seus dados pessoais. Conhecimento é poder, e, conhecer demais sobre uma população inteira significa poder manipular toda essa população.
O mote da Google, que era “Não seja mau”, já foi esquecido, e saiu de seu código de conduta, quando a empresa sofreu uma reestruturação em 2015. Agora, só nos resta esperar quando e como a Google será má (se bem que suas colaborações com o governo Chinês e do Paquistão mostram que ela já está sendo conivente com a maldade).

A conclusão

Por melhores que sejam os aspectos do cloud gaming e o streaming, uma coisa básica vai morrer: Os jogadores não mais vão possuir seus jogos. E, por conta disso, não mais poderão jogar quando quiserem, mas, quando a empresa de cloud gaming  disponibilizar. Não vai existir mais a posse, mas, somente um vislumbre, um olhar do que poderia ser do jogador, mas, por N razões não é, e, nem será.
E não vão mais possuir os vídeo games consoles, afinal, todo o ato de jogar será abstraído, e, ao jogador vai sobrar apenas as experiências visuais e sonoras, que poderão se degradar, dependendo das condições da rede e dos  data centers.
Mas, por enquanto, podemos nos acalmar e ficar momentaneamente aliviados: O Google Stadia, como está, é apenas vaporware, e, dependendo de como ficarem as infraestruturas, será mais um produto da Google que morreu na praia, como foram os Google glasses, uma tecnologia interessante, que jamais levantou voo. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Alternativas ao Dropbox – Parte final


Nestes últimos 3 meses fui mostrando diversas alternativas ao Dropbox que podem ser usadas no PCLinuxOS.
As alternativas ao Dropbox vistas foram:

    • Mediafire
    • pCloud
    • Cozy.io
    • PCLOS Cloud
    • Yandex Disk
    • Telegram
    • Seafile
    • Mega
    • Spider Oak

E, agora, vou recapitular as maiores vantagens e desvantagens de cada um dos serviços, de forma a analisar todas as opções e fazer um quadro comparativo, para auxiliar na escolha, caso se deseje mudar do Dropbox.


Mediafire:
Sendo principalmente um serviço de armazenamento e troca de arquivos via web, um cyberlocker, Mediafire pode ser uma solução para troca de arquivos, mas, como uma alternativa ao Dropbox, não tem a flexibilidade do mesmo, apesar de oferecer mais espaço de armazenamento gratuito em contas free. Possui boas opções, tanto para mandar arquivos para sua conta como compartilhá-los com outras pessoas, fora do serviço Mediafire. Então, para troca de arquivos, é uma ótima opção, enquanto armazenamento em nuvem, deixa um pouco a desejar.


Pcloud:
pCloud é um serviço relativamente novo, mas, possui muitas características que o difere dos demais. Principalmente sua oferta para contas free, de até 20GB de espaço de armazenamento.
Este serviço é versátil o suficiente para trocar arquivos com todos os seus dispositivos, sejam celulares, tablets ou computadores. Ele possui aplicativo nativo para todos os principais sistemas operacionais, tanto de desktop quanto móveis. Você pode trocar aquivos até entre máquinas com diferentes sistemas operacionas.
Pelo fato de seu programa cliente vir no formato Appimage, ele funciona naturalmente no PCLinuxOS, como se fosse nativo da plataforma.
É uma ótima opção para substituir o Dropbox, e, é recomendado.


Cozy.io
É um serviço com intenções ambiciosas, para se diferenciar dos outros. Mas, se você não mora na área de atuação dessa empresa, não poderá desfrutar na totalidade as benesses que a empresa disponibiliza.
Como o espaço gratuito é um dos menores, 5GB, não é muito recomendado se você não mora em um dos países da União Europeia, onde a empresa tem sua sede e seus parceiros comerciais. Pode ser usado sem medo no PCLinuxOS, pois seu aplicativo cliente vem no formato Appimage.


PCLOS Cloud
Como serviço oferecido para uma comunidade, é uma ótima opção. O mantenedor do serviço, Sr. David Moore, faz um trabalho de amor aqui. E, para um serviço oferecido tão generosamente, até comprar mais espaço e assinar o serviço pago do PCLOS Cloud vale a pena, pois assim se ajuda a fortalecer mais a comunidade PCLOS internacional.
Com uma atraente oferta de 15 GB grátis, programa cliente nativo e nos repositórios do PCLOS (o que o torna muito fácil de instalar), é um serviço altamente recomendado. O ponto negativo seria que a infraestrutura não é gigantesca, com diversos servidores e data centers ao redor do mundo, mas, se você não necessita de serviços de missão crítica, com disponibilidade de 100%, 24/7, 365, pode ser uma opção muito atraente.


Yandex Disk
O serviço que tenta rivalizar com o Google drive, Yandex Disk tem em seu favor a facilidade de instalar e funcionar no PCLOS, uma atraente quota de 10 GB grátis, para iniciar, proteção contra bisbilhotices das agências americanas de segurança, e, toda a infraestrutura da Yandex, tentando ganhar espaço da Google (e de outras provedoras de armazenamento em nuvem).
Como pontos negativos, a localização dos servidores na Rússia pode levar a velocidades frustrantes, dependendo de onde você more.
Também não podemos nos esquecer que questões de natureza política e legal (definições sobre direitos dos usuários na Rússia, que hoje não tem legislação clara sobre o assunto), e, uma possível fragilidade a cyber ataques podem ser fatores que detratam da experiência, e, podem afugentar os possíveis usuários.


Telegram
Telegram é um serviço de troca de mensagens que está muito perto da perfeição. Graças ao seu criador, o milionário Russo da internet Pavel Durov. A excelência do Telegram pode ser creditada à personalidade de Pavel, o Telegram é um ótimo serviço de troca de mensagens, muito melhor do que o Whats App, já que o idealismo é um motor poderoso para Pavel, e, ele encontra formas de monetizar seu serviço sem comprometer a privacidade ou os dados pessoais de seus usuários. O Telegram apresenta uma característica única quando se trata de troca de arquivos e armazenamento. Você pode compartilhar arquivos com até 100 pessoas ao mesmo tempo, da mesma forma como pode transferir arquivos entre diversos dispositivos e sistemas operacionais que o Telegram suporte. Sem limite de tamanho de arquivos, pode ser uma opção para guardar arquivos, como um cyberlock e difundi-los, mas, não é muito flexível e está contido apenas à rede interna do Telegram.
Como o cliente do Telegram é open source, funciona tranquilamente no PCLinuxOS, tendo até cliente nos repositórios.


Seafile
Seafile pode ser um uma ótima opção para armazenamento e troca de arquivos entre equipes de trabalho, mas, para um usuário comum pessoa física, não oferece a facilidade para tanto. É uma infraestrutura, como o Nextcloud, para criar um armazenamento em nuvem pessoal. Não fornece espaço gratuito, mas, o software servidor e os clientes, e, o indivíduo que instale e rode na sua infraestrutura. Não recomendado para uso pessoal, pode ser uma opção para pequenas empresas e grupos de trabalho.


Mega
Mega teve seus dias de glória nos tempos em que Kim Dotcom comandava a empresa. Depois que foi preso, e seus servidores confiscados, a coisa nunca mais foi a mesma.
Kim tentou reerguer sua companhia, mas, sem sucesso. A Mega de hoje não tem mais a participação de Kim, e, quando pode, ele sempre fala mal da empresa agora. Controlada por um investidor Chinês, que é procurado por autoridades da China, Mega hoje não é nem sombra da empresa que foi, em seus bons tempos. Some-se a isto um cliente para Linux que não funciona no PCLinuxOS, um cliente web que possui quotas para download e você tem um belo abacaxi. Não recomendado, de jeito nenhum.


SpiderOak
SpiderOak é um dos serviços de armazenamento em nuvem mais bem qualificados que existem na atualidade. Ser recomendado por Edward Snowden não é para qualquer um, e, o compromisso da empresa com seus usuários é algo muito sério.
Apesar de não possuir planos gratuitos, o serviço permite um tempo de teste, para que o usuário experimente se o SpiderOak atende às suas necessidades.
Com cliente nativo para o PCLinuxOS, também é uma boa opção, caso você preze a privacidade e disponibilidade de seus dados.






Quadro comparativo dos diversos serviços apresentados
Nome
Espaço Gratuito
Vantagem
Desvantagem
Facilidade de instalar
no PCLinuxOS
País
Mediafire
10 GB
Interface Web, pode ser acessado de qualquer lugar
Não possui aplicativo para desktops Linux, serve primariamente como Cyberlocker
Não se aplica
EUA
Pcloud
10 GB
Pode chegar até 20 GB grátis
Nenhuma aparente
Fácil / Appimage
Suiça
Cozy.io
5 GB
Integração com diversos serviços
Se você não mora na Europa, os serviços integrados não estarão disponíveis
Fácil / Appimage
França
PCLOS Cloud
15 GB
Extensível a familiares
Não possui uma mega infraestrutura. Excelente para arquivos domésticos.
Fácil / nativo
EUA
Yandex Disk
10 GB
Facilidade de
configuração
Leis sobre direitos de usuários incertas na Rússia
Fácil / nativo
Rússia
Telegram
Ilimitado
Integração com diversos dispositivos
Não é muito flexível
Fácil / nativo
Inglaterra
Seafile
Não se aplica
Integração de grupos de trabalho
Não oferece espaço gratuito
Fácil / nativo
China
Mega
15 GB
Zero Knowledge Encryption
Não funcionar nativamente
no PCLinuxOS
Impossível
Nova
Zelândia
SpiderOak
Não se aplica
Segurança
Não oferece espaço gratuito
Fácil / nativo
EUA




E assim, chegamos ao fim de mais uma série de artigos. Espero que tenham gostado, e, que seja útil, caso desejem assinar outro serviço e deixar o Dropbox. Ou, mesmo não deixando o Dropbox, ter um serviço alternativo de back up.

Ok ?

Abraços e até a próxima!