quarta-feira, 24 de junho de 2020

O Amor Mortal da Microsoft


Eu hesitei muito antes de escrever este artigo. Na verdade, eu ficava com o coração pesado. Seria algo como dizer às crianças que papai Noel não existe, ou a fada do dente é invenção e o coelho da Páscoa é uma farsa. Como fazer isso, logo agora que o Linux está se tornando main stream ? Jogar um balde de água fria, em quem está chegando no Linux ? Desestimular novos usuários ?
Mas, não posso só pensar em quem está chegando agora. Preciso pensar em quem sempre esteve aqui, ao longo do caminho. Gente que viveu tempos ótimos, tempos ruins, e, esses nossos tempos de agora, onde tudo parece bom, mas, não é. É por quem sempre foi usuário Linux é que eu escrevo este artigo. Afinal, somos como cidadãos, pessoas que moram em uma área, na cidade, que está velha, feia, até marginalizada. E, grandes empreiteiros marcaram nossa vizinhança para gentrificação. E, não vão medir esforços para nos expulsar de nossos lares, nossas /homes.


Como o câncer se transformou em amor ?

O quê vem acontecendo, com a Microsoft, desde a saída de Steve Ballmer da presidência, para quem observa de fora, parece incrível. Como a Microsoft, uma empresa que sempre foi uma antagonista do Software Livre em geral, e, do GNU/Linux em particular, passou a cooperar, financiar e se envolver com a comunidade ? Como foi isso ? Não podemos nos esquecer que Steve Ballmer chamou o Linux e o Open Source de câncer, em 2001


Aliás, ele, na época, já desfazia do termo Free Software, em favor do termo Open Source, e, mesmo assim, confundia os dois termos e que era possível de se fazer com eles. Dizia ele, em 2001: “O financiamento do governo deve ser para um trabalho disponível para todos”, diz ele, patriótico. Mas “o código aberto não está disponível para empresas comerciais” e, portanto, deve ser considerado uma violação da confiança pública.” - falou o cara que adorava uma compra do governo, essas licitações, vocês sabem, onde a grana rola solta. E, essa grana sai do bolso dos contribuintes. E, sejamos sinceros aqui: O trabalho governamental, de escritório, bem pode ser feito no Linux, ou numa nuvem, sem a necessidade de sistemas da Microsoft, ou de seus aplicativos, ou de todos os penduricalhos que vêm junto (anti isso, anti aquilo, etc, etc…).
Mas, essa mentalidade de Ballmer empurrou a Microsoft para um beco sem saída: Todos estavam usando o Software Livre, como uma vantagem competitiva, mas, a Microsoft, por causa de seu CEO (Ballmer) continuava como uma opositora do Software Livre. Claro que Ballmer teve sua quota de trapalhadas, como se envolver com fabricação de celulares, coisa que Bill Gates se opunha, mas Ballmer achou por bem adquirir as plantas da Nokia e forçar sua linha de celulares baseados no Windows Phone OS. O quê se mostrou um tremendo fracasso, como todos vimos.


Se não consegue vencê-los, finja que os AMA...

A situação com Ballmer foi escalando, a tal ponto que não havia outra saída, a
não ser a sua (Ballmer) saída da Microsoft. Ele se aposentou da empresa em 2014, e, com seus bônus e compensações de aposentadoria, pôde viver muito bem, e, até comprar um time de basquete, o Los Angeles Clippers. Uma coisa, no entanto, é que, apesar de, publicamente, serem considerados “amigos”, havia uma rivalidade bastante grande com Bill Gates. Ele nunca gostou do estilo de Ballmer, e, com Ballmer na direção, viu a empresa encolher e se tornar bem menos relevante, do que era. Não entendam mal, a empresa encolheu, mas continuou rentável, quebrando muitos recordes de lucro e crescimento. Apenas, se tornou mais uma empresa de tecnologia, e não era mais a toda poderosa Microsoft. Gates continuou no conselho de diretores da Microsoft até este ano de 2020. E, podemos especular que a saída de Ballmer tenha tido um dedo de Gates, pelos motivos mencionados.


Uma cara nova, mas, as mesmas velhas intenções

Como mencionei acima, o estilo de Ballmer tinha queimado todas as pontes com o SoftwareLivre (que eles gostam de chamar Open Source), ao ponto que, a empresa não tinha mais nenhuma credibilidade com a comunidade. Entra Satya Nadella. 



A entrada de Satya Nadella teve um impacto imediato na Microsoft. Após décadas de liderança de Bill Gates e Steve Ballmer, havia uma cultura agressiva, às vezes tóxica, na Microsoft. Satya mudou drasticamente a cultura da Microsoft, o moral dos funcionários melhorou e o mercado corporativo estava pronto para a mudança para a nuvem. Bem, essa cara nova, essa mudança de cultura, todo esse turn around era o que a empresa, Microsoft, queria que todos percebessem. Na verdade, a entrada de Nadella foi um grande golpe publicitário. Não que ele não fosse capaz, ele trabalhou na Sun e tinha começado no Microsoft em 1992, talento ele tinha e tem. A mudança, no entanto, foi apenas cosmética.
Tanto que, quando questionado sobre salários iguais, para homens e mulheres, na Microsoft, ele saiu pela tangente. Ou seja, quanto mais as coisas parecem mudar, mais continuam as mesmas.


Se não pode vencê-los, compre um lugar na mesa.

Nadella começou um movimento de aproximação com o Software Livre, pois, todos os outros big players já estavam lá.
Nadella, no comando  da Microsoft, aproximou a empresa com empresas e tecnologias com as quais a Microsoft também concorre, incluindo a Apple Inc.,  Salesforce,  IBM,  e Dropbox.  Em contraste com as campanhas anteriores da Microsoft contra o sistema operacional Linux, Nadella proclamou que "Microsoft ❤️ Linux"  e a Microsoft ingressou na Linux Foundation como membro Platinum em 2016.
Sim, Microsoft comprou um lugar à mesa, e, forçou seu pé na porta. Mas, não foi só isso.
Agindo dessa forma, Nadella fez jus ao ditado mafioso: “Tenha seus amigos perto, e, seus inimigos mais perto ainda”.
Mas, ao construir essas “pontes”, buscar essa aproximação, Nadella pôs em movimento planos com motivos ocultos, onde a verdadeira natureza da Microsoft aparece, apesar do rosto simpático e sorridente.


Não nos esqueçamos nunca de James Plamondon

James Plamondon foi um evangelista das tecnologias da Microsoft. Durante oito anos, ele criou e implementou as táticas de evangelismo tecnológico da Microsoft. Há uma famosa apresentação sua, “Evangelism is War”, onde ele detalha as táticas que devem ser usadas para destruir os inimigos da Microsoft. Agora, sobre jornalistas técnicos, ele escreveu: “Controle da mente: para controlar a saída mental, você precisa controlar a entrada mental. Assuma o controle dos canais pelos quais os desenvolvedores recebem informações, então eles só podem pensar nas coisas que você lhes diz. Assim, você controla a mente! ”. O texto pode ser acessado integralmente aqui .
E, como a Microsoft tem uma boa parte da imprensa técnica de hoje em sua folha de pagamento(anúncios e publicidade), é claro que obtém ótimas matérias, principalmente sobre os arrojados planos de tornar a empresa, uma empresa Open Source, de seu Ceo Nadella.
Anos mais tarde,  Plamondon se arrependeu de seus atos.
Claro que, para que a comunidade acreditasse na “nova” Microsoft, eles tiveram que investir em sites que tratavam de Software Livre e Open Source, como Fossbytes e outros. E, tanto foi, que hoje dia, há sites sobre Linux que tratam mais das propagandas da Microsoft do que do Linux, propriamente dito.
Graças a toda publicidade positiva, a Microsoft conseguiu mudar sua imagem. Mas, faltava ainda a cereja no bolo, que era ter todos os projetos de Free Software e Open Source para si. E, por mais incrível que pareça, se materializou.


A compra do github, ou, como ter (quase) todo Software Livre numa tacada só

O GNU/Linux sempre se beneficiou da diversidade. O quê alguns apontavam como uma fraqueza, a fragmentação, na verdade era, e ainda é, uma qualidade e uma força do Software Livre.
Tanto que, Ballmer teria dito que “Não existe uma empresa chamada Linux, apenas existe um roteiro do Linux. No entanto, o Linux meio que brota organicamente da terra. E tinha, você sabe, as características do comunismo que as pessoas amam muito, muito sobre isso. Ou seja, é grátis.”
Exatamente, a tal fragmentação, a organicidade do Linux era sua fortaleza e escudo. No entanto, isso mudaria muito, com centralizações que deixariam o Linux vulnerável.
Com a liderança de Nadella, a Microsoft começou com uma onda de aquisições, que, se mostraram melhores que as desastradas aquisições de Ballmer. Ele(Ballmer) comprou a Nokia, o Skype e alguns outros ativos, que se desvalorizaram ou perderam relevância.



Em 2014, a primeira aquisição de Nadella pela Microsoft foi a Mojang, uma empresa sueca de jogos mais conhecida pelo jogo de computador Minecraft, por US $ 2,5 bilhões. Ele seguiu isso comprando a Xamarin por um valor não revelado. Ele supervisionou a compra da rede profissional LinkedIn  em 2016 por US $ 26,2 bilhões.  Em 26 de outubro de 2018, a Microsoft adquiriu o GitHub por US $ 7,5 bilhões.
Porém, mesmo a compra do Github foi um movimento muito bem pensado. Na verdade, um ataque que não poderia ter sido feito, senão com muita paciência.
E, levou um bom tempo para ser concretizado.
Em 2014, o chefe de nuvem da Microsoft, Scott Guthrie, escreveu uma proposta para adquirir o GitHub. Então ele arquivou o plano em uma gaveta. De vez em quando, ele pegava o plano, olhava para ele e depois o devolvia à gaveta.
Guthrie achava que a Microsoft simplesmente não estava pronta para adquirir a popular empresa de código aberto. “Nós teríamos estragado tudo”, disse Guthrie. Além disso, os desenvolvedores - muitos dos quais viam a Microsoft como inimigo público número 1 por seus ataques a softwares de código aberto distribuídos gratuitamente - teriam se revoltado.
“O mundo do código aberto teria nos encarado corretamente como o anticristo”, disse ele. “Não tínhamos a credibilidade que temos agora em relação ao código aberto”. A história toda pode ser lida aqui.
E isto está correto. A Microsoft mudou ? Não, de jeito nenhum. Eles ainda são o anticristo. Só mudaram suas táticas. Afinal, uma serpente pode mudar de escamas, mas segue sendo uma serpente.


Microsoft, o império criado nos ombros de outros.

Para quem não conhece a história da empresa, ela foi fundada sobre trabalho de outros, que nem sempre foram adquiridos de forma legal. O primeiro produto para computadores IBM-PC, o MS-DOS, nem foi produzido por eles, mas, por Tim Patterson, de uma empresa de Seattle, que a Microsoft comprou às pressas para apresentar à IBM.
Mas, não pára por aí. Ao longo dos anos, a empresa se apropriou de muito mais.

1994
- Stac, que criou um software de compressão para discos, Stacker, e, em1993, a Microsoft lançou o MS-DOS 6.0, que incluía um programa de compactação de disco chamado DoubleSpace. A Microsoft havia discutido anteriormente com o Stac para licenciar sua tecnologia de compressão e discutido com os engenheiros do Stac e analisado o código do Stac como parte do processo de due diligence. Resultado: Copiaram a tecnologia, lançaram o produto e não deram nada para a Stac. Stac processou a Microsoft e ganhou, em 2001.

1995
- Syn'x Relief processa Microsoft por pirataria de software: Vários recursos pioneiros de animação em 3D desenvolvidos pela empresa francesa Syn'x Relief para seu produto Character, foram copiados pela SoftImage. Eles estavam negociando uma licença para vários recursos com a empresa SoftImage, que foi adquirido pela Microsoft. As negociações foram interrompidas quando a SoftImage fez exigências irracionais. Esses recursos são inequívocos e exclusivos no setor, e a Microsoft prometeu removê-los todos do produto SoftImage. A Microsoft não removeu nenhum deles e a Syn'x Relief descobriu que eles não tinham outro recurso senão processar.  Syn'x Relief ganhou em 2001.

1998
- A Sun Microsystems processa a Microsoft - o caso Java -  A Microsoft, reconhecendo que o ambiente Java da Sun poderia tornar o Windows irrelevante, determinada a corrompê-lo e pervertê-lo. Para isso, eles precisavam licenciar o Java da Sun. A Sun, desejando promover o Java o máximo possível, achou que licenciá-lo para a Microsoft seria muito vantajoso para eles, embora James Gosling, seu principal criador, sentisse que lidar com a Microsoft era muito perigoso. A Microsoft, de posse da licença da Sun, modificou o Java de um jeito, que programas feitos em outras plataformas não funcionariam direito no Java da Microsoft e vice-versa. Como a Microsoft tinha assinado uma cláusula de não mudança no software, a Sun processou a Microsoft, e, em 2002 Microsoft teve que entrar em acordo, pagou uma quantia de US$20 milhões e não produziu mais a máquina virtual Java (JRE).
Bem, todos esses processos e essas encrencas foram coisas do passado, não é ? Afinal, agora é a nova Microsoft, do Satya Nadella, uma empresa que AMA o Linux e abraçou o espírito do Software Livre!
Só que não, eles continuam com as velhas práticas, hoje ainda:

2020
- O AppGet “realmente nos ajudou”, diz a Microsoft, mas não oferece desculpas ao desenvolvedor por matar o gerenciador de pacotes de código aberto: Uma prévia do WinGet(programa para gerenciar pacotes no Windows, clone do Apt-Get) foi lançada pela Microsoft durante o recente evento virtual Build, levando o desenvolvedor do AppGet, Keivan Beigi, a postar sobre como ele foi abordado pela Microsoft em julho de 2019, supostamente para lhe oferecer ajuda no desenvolvimento. Ele disse que foi questionado pelo fornecedor em detalhes sobre suas ideias de gerenciamento de pacotes, convidado a se candidatar a um emprego na Microsoft para trabalhar em uma versão oficial do AppGet e não ouviu nada mais, até o momento antes do lançamento do WinGet. Depois disso, Beigi desistiu de trabalhar no AppGet. Link aqui.

2020
- Acho que é hora de compartilhar publicamente sobre como a Microsoft roubou meu código e cuspiu nele: “A Microsoft copia / rouba lerna” – Lerna, Uma ferramenta para gerenciar projetos JavaScript com vários pacotes, foi o que “inspirou” uma ferramenta semelhante, Rush, da Microsoft, que faz a mesma coisa. O autor, Jamie Kyle, depois de analisar o código do Rush, chegou a esta conclusão. Mas, a Microsoft fez ainda pior, segundo Jamie: “No leia-me, eles reconhecem o fato de que existem outras soluções e dizem que são ruins. Nenhuma menção ao fato de que Rush foi tirado diretamente de uma dessas  soluções ruins.”
A história inteira foi removida da internet, sendo mantida apenas no web archive org e em artigos espalhados pela internet. Sabe-se lá como a Microsoft coagiu o desenvolvedor.


Embrace, Extent, Extinguish não mais

Não, na verdade, o ataque de 3E mudou. Mas, isso só foi possível com um novo ator, uma nova cara, o simpático Nadella, que, detrás daquele sorriso e daquela cara de sonso, continua perpetuando todos os malefícios da Microsoft, sejam com seus empregados, com denúncias de assédio e salários mais baixos para mulheres, como a prática de se apossar do trabalho de outrem e não dar nenhuma compensação por isso.
Houve mudanças na Microsoft ? De propagandas e relações-públicas, sim, de atitudes, não.

Senão, vejamos:
    • O Microsoft Office adotou o ODF como padrão ? Não
   • A Microsoft ajudou a expansão do Linux no desktop ? Não, e, já vamos abordar como ela planeja matar o Linux no desktop.
    • A Microsoft portou o MS Office para Linux ? Claro que não.
    • A Microsoft portou o DirectX para Linux ? Óbvio que não.
Então, nada mudou. Ou, mudou pra pior: Pelo menos, sob a direção de Ballmer, Microsoft não era dissimulada: queria destruir o Linux e isso era bem claro. Com Nadella, segue querendo destruí-lo, mas de forma velada.
Porém, como a Microsoft age agora, em relação ao Linux ? Com uma outra estratégia de EEE, porém agora é Envelope, Extend, Extinguish.


O novo EEE

Como a Microsoft não conseguia concorrer com o Linux, e, como o foco da indústria de TI  mudou (antes, você tinha uma empresa que fabricava software, para ser vendido, com licenças, suporte e manutenção. Agora, você deve ter uma empresa que venda serviços, infraestrutura, virtualização e espaço em armazenamento), ela então, se aproximou do Software Livre para poder lucrar com ele também.
Mas como a Microsoft lucraria com o Software Livre, que ela tanto atacou através dos anos ? Simples, faça com que o Linux necessite da Microsoft para rodar. E, apresente a Microsoft como o melhor provedor de Linux que pode existir. Mas como ? Sim, e isto está acontecendo agora.


Microsoft, um dos maiores contribuintes do kernel Linux

Sim, é verdade, a Microsoft se tornou um dos maiores contribuintes para o desenvolvimento do kernel Linux. E tem mais, ainda colocou uma programadora, empregada da mesma, como segunda na hierarquia do desenvolvimento do kernel Linux.  Com todo esse apoio, o Linux já deveria estar super incrementado , compatível com todo hardware da Microsoft(os tablets Surface), com o DirectX, com os arquivos OOXML do MS Office, e até com jogos do Xbox, não é mesmo ?
Não. Claro que não. As contribuições da Microsoft são apenas em seu próprio interesse. Na verdade, todo esse esforço no desenvolvimento do kernel Linux é apenas sobre como fazer o Linux render mais, rodando dentro do Hyper-V. E agora, a coisa fica pior, pois não é mais emular o Linux no server side, mas também o WSL, emular o Linux no desktop Windows 10. Sim, Microsoft está investindo pesadamente para poder emular o Linux, da melhor forma possível, de dentro de suas plataformas: No servidor,  Azure, e, no desktop, o WSL.


Não nos enganemos: Tudo que o está acontecendo agora, já aconteceu antes…

A história se repete ? Eu diria que as pessoas repetem a história, pois não mudam. E, o quê vemos hoje, com essa aproximação da Microsoft, do Linux e do Free Software, nada mais é do que os anos 90 se repetindo.
Como ? Bem, quem é mais jovem não se lembra dessa história, mas aconteceu. Paul Maritz, chefe dos negócios de sistemas operacionais da empresa, em meio à concorrência acirrada com a Netscape, teria traçado, em 1995,  a estratégia para derrotar a concorrente. Ele teria dito: “Vamos cortar o suprimento de ar deles. Tudo o que eles estão vendendo, vamos doar de graça” – E, depois disso, a próxima versão do Windows, o Windows 98 veio com o Internet Explorer embutido, gratuitamente, para que os usuários não perdessem tempo comprando e instalando o Netscape navigator, o browser da Netscape.
O resultado disso, foi que a Netscape foi definhando e morrendo aos poucos, já que com um navegador embutido, a Microsoft podia criar extensões para HTML, CSS e outras coisas mais, que os concorrentes não conseguiam acompanhar. Além disso, quem compraria um navegador, quando já havia um embutido com o sistema operacional ? A empresa encolheu, ao ponto de ser comprada pela AOL em 2002. Seu principal produto, o Netscape navigator, teve seu código fonte aberto e tornou-se a base para o Firefox. E, a AOL processou a Microsoft, por práticas desleais no mercado de browsers, em julho de 2002. Em 2003, a Microsoft aceitou fazer um acordo com a AOL, onde pagaria US$ 750 milhões, como compensação por suas práticas, encerrando o processo. Mas, naquele ponto, quase dez anos tinham se passado, a Netscape tinha quase ido à falência, e, o Netscape Navigator nem era mais lembrado. Uma vitória, muito tardia.


E hoje a história se repete...

E qual a relação dessa história com o status atual do Linux ? A mesma. A Microsoft está trabalhando duro, investindo pesadamente no desenvolvimento do kernel Linux para torná-lo um software cliente de seus produtos Windows, tanto no desktop(WSL) quanto no servidor (Azure). E a lógica é a mesma: Quem vai se dar ao trabalho de instalar Linux, quando ele já vem embutido no Windows 10 ? Junte-se a isso o fato de que novas versões do kernel Linux virão com drivers específicos para o WSL, principalmente na parte gráfica (drivers de vídeo para OpenGL), e já estamos no segundo E(xtend), agora de Envelope, Extend e Extinguish.


O Céu está caindo ?

Ainda não, mas convém estar atento. No próximo mês, vou escrever mais sobre como as corporações estão paulatinamente tomando conta do GNU/Linux, e, com sua influência e poder, mudando os rumos de seu desenvolvimento, de forma a alienar os usuários e favorecer suas agendas corporativas. Até lá, um grande abraço, e, durma com um olho aberto e outro fechado, nesse assunto.