quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Para quem não gostou do novo Firefox… Leia este artigo.


Muito já foi escrito, louvando as qualidades do novo Firefox, de como ele está melhor do que jamais esteve, e, como muitos usuários estão surpresos e fascinados pelo novo FF quantum.


No entanto, eu decidi bancar o advogado do diabo aqui, pois, o novo Firefox não me surpreendeu tanto assim, e, apesar de estar bem mais rápido, menor e mais leve, as aparências enganam, e, todas essas qualidades são apenas superficiais, já que o “novo” Firefox abandonou muitos recursos que possuía, recursos que o faziam único.

As primeiras casualidades foram os add-ons, e, se você tinha algum especial, que precisava usar diariamente, não te-lo(s) mais é muito irritante. Mas, voltarei a isto num instante. Primeiro, vamos olhar para o passado do Firefox, precisamente 5 anos atrás, quando o Firefox surfava uma onda de imprecedente sucesso.


Firefox em 2013

Em 2013, o Firefox estava no topo do mundo. A Mozilla foundation tinha  lançado o Firefox OS, e, toda a entidade (a fundação mais a Mozilla corporation, que fazia as ligações comerciais da fundação), estavam direcionadas a tornar o Firefox OS um competidor a altura dos diversos OSes móveis que existiam então.

Não só o Firefox OS, mas, a Mozilla estava comprometida com desenvolvimento de games de alta qualidade, com HTML5(Unreal Engine, Monster Madness)  e Javascript (asm.js), estava apostando alto no WebRTC, como novo padrão de comunicação online (bye bye Skype). E, graças a um código bem otimizado e leve, o Firefox OS poderia rodar em celulares low end sem problemas.

A Mozilla estava mirando em mercados emergentes, onde celulares inteligentes eram artigos de luxo. Assim, fechou acordos em países como  Uruguai, Índia, Bangladesh, Panama, El Salvador, Nicaragua e Polônia, entre outros.

Havia excitação e expectativa, a cada anúncio da Mozilla, referente ao FF Os. O sistema era muito semelhante ao Android, pois tinha um kernel Linux, uma camada de abstração de hardware HAL(gonk) , Gecko, que é o mecanismo de navegador da Web do sistema operacional Firefox, que implementa padrões abertos para HTML, CSS e JavaScript. O Gecko inclui uma pilha de rede, uma pilha de gráficos, um mecanismo de layout, uma máquina virtual (para JavaScript) e uma camada de portabilidade, e Gaia, a interface com usuário do sistema.
Pela simplicidade, era adequado à aplicações WEB nativas, e, os apps que possuía eram todos baseados em HTML5+JavaScript e CSS.

O Firefox OS tinha uma interface elegante

Mas, em 2014, tudo mudaria, e, penso, para pior.

Brendan Eich, o visionário que queria fazer uma revolução online

Brendan Eich foi um dos funcionários da Netscape que ajudou a criar o javascript, em 1995.

No início de 1998, Eich co-fundou o projeto Mozilla com Mitchell Baker, criando o site mozilla.org que deveria gerenciar contribuições de código aberto para o código-fonte Netscape. Ele atuou como o principal arquiteto da Mozilla. Após a AOL ter comprado a Netscape e puxado a tomada do projeto, ele ajudou na criação da fundação Mozilla.

 
 Eich em foto oficial de 2012

 Ele ascendeu diversos degraus na organização, servindo como CTO, a partir de 2005, e, sendo apontado como CEO em março de 2014. No entanto, sua nomeação não agradou alguns membros, que deixaram o board of directors da Mozilla foundation logo após Eich ter sido conduzido ao cargo. Porém as coisas não pararam por aí, escalaram rapidamente, para um desfecho bem constrangedor.

Alguns funcionários da Mozilla Foundation (uma organização separada da Mozilla Corporation, que como eu mencionei anteriormente, é o braço comercial da entidade) solicitaram sua renúncia, com referência a sua doação de US$ 1.000 para a Proposição 8 da Califórnia, que proibiu o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Califórnia, antes de ser derrubada em 2013, quando foi declarada inconstitucional e os casamentos foram autorizados novamente. Eich ficou de acordo com sua decisão de financiar a campanha, mas escreveu em seu blog que estava arrependido de "causar dor" e prometeu promover a igualdade na Mozilla. Alguns dos ativistas criaram uma campanha  online contra  Eich, com o site de namoro on-line OkCupid exibindo automaticamente uma mensagem aos usuários do Firefox com informações sobre a doação de Eich e sugerindo que os usuários mudassem para um navegador diferente.  Outros na Mozilla Corporation falaram em seus blogs em favor de Eich.  Os membros do
conselho queriam que ele permanecesse na empresa em um cargo diferente. Em 3 de abril de 2014, Eich demitiu-se como CEO e renunciou a trabalhar na Mozilla; Em seu blog pessoal, Eich postou que "nas circunstâncias atuais, não posso ser um líder efetivo".
Eich, como um dos criadores do JavaScript, queria tornar o Firefox uma nova força na web, principalmente com o apelo das aplicações web rodando no FirefoxOS em celulares pelo mundo afora. E, um detalhe muito importante:
Ele era contra a adoção das EME’s (encrypted multmedia extensions) como padrão no HTML5, ele queria uma web livre para os usuários, não travada por mil e um esquemas de DRM.

Eich caiu, e, o Firefox começou a descer a ladeira

Com toda a campanha contra ele, Eich não teve alternativa a não ser deixar a Mozilla foundation. Mas, a saída de Eich afetou o desenvolvimento do Firefox e a Mozilla, mais profundamente do que qualquer um poderia prever. Com ele fora do
caminho, Firefox abraçou a tecnologia de DRM para conteúdos web que foi pressionado pela Netflix e outras companhias.

O Firefox OS também foi outro projeto que foi definhando lentamente até morrer, e,as companhias dominantes do mercado móvel (Apple, Google e em menor extensão Microsoft) não ficaram nenhum pouco tristes com isso. Era menos um competidor (muito talentoso) fora do páreo.

Assim, ele foi atingido, no início, por “fogo amigo”, de dentro da própria Mozilla foundation, e, a oposição a ele, com uma campanha, foi tão grande que ele não resistiu. No entanto, muitos ponderam que, não foi por causa de suas posições
políticas, mas sim porque ele se opunha ao DRM no Firefox e era uma força a empurrar o Firefox OS no mercado móvel.

E, a decadência foi tanta, que o Firefox foi chamado de walking dead browser (navegador morto andante).


Firefox Quantum é a nova tentativa da Mozilla
Com o lançamento da versão 57, Quantum, Mozilla tenta novamente ser o número 1 da web, e, suas características realmente são impressionantes: Novo rendering engine, escrito em Rust, com habilidades de usar multiprocessamento para acelerar o carregamento e renderização das páginas, além de ter seu código otimizado, para consumir menos memória (30% a menos, dizem os técnicos da Mozilla), uma nova interface (Photon) e ter voltado com o Google como padrão de buscas para diversos países ocidentais (Yandex continua na Rússia e Baidu segue na China), este novo Firefox  acabou com todas as extensões antigas.

O novo sistema de add-ons, a API WebExtensions, aposentou todas as extensões / complementos anteriores a versão 57. Como o navegador trocou do suporte XUL (XML User Interface Language) para apenas suportar extensões desenvolvidas pela API WebExtensions, muitas extensões populares  não funcionam mais, até que seus desenvolvedores as portem para a nova API. 
Ora, complementos básicos, como Down Them All e tantos outros, simplesmente pararam de funcionar. Penso que, na altura que este artigo sair, talvez estes complementos tenham sido portados, mas, e se não forem ?
Para quem trabalha com o Firefox, foi um golpe bem duro. Afinal, extensões como Firebug, Web Developer e X-Ray são essenciais, e, talvez não sejam portadas.
E, nesses tempos de vazamento de senhas e perfis expostos na internet, a Mozilla foi fazer uma promoção do seriado Mr. Robot, instalou uma extensão, Looking Glass, sem o consentimento dos usuários, e, a internet pegou fogo. “Se a Mozilla se posiciona como a alternativa consciente da privacidade para o Google, a Microsoft e outros, então, instalar uma extensão sem perguntar aos usuários primeiro, não é direito” - Techcrunch
Fora isso, para nós usuários Linux, a dependência do Pulseaudio é algo execrável.  

Mas, não tema: Há alternativas
E, depois de toda essa introdução, chegamos as alternativas viáveis ao Firefox, para que, todos aqueles que gostavam do Firefox antigo, possam ter o prazer de usar novamente todos os complementos, extensões e o jeitão do Firefox, que teve ótimas ideias, e algumas foram abandonados pelo caminho(como o botão Tab Groups, no FF 45).

Palemoon

Pale Moon é um navegador de código aberto com ênfase na personalização; Seu lema é “Seu navegador, do seu jeito”. Existem lançamentos oficiais para o Microsoft Windows e Linux, uma compilação não oficial para MacOS,  e diversas versões feitas por voluntários para várias plataformas.


Pale Moon é um fork do Firefox com divergências substanciais, especialmente para complementos e interface de usuário. Em particular, o Pale Moon continua a suportar os recursos  XUL e XPCOM  que o Firefox removeu na versão 57. Pale Moon também manteve a interface de usuário totalmente personalizável da era do Firefox 4-28, enquanto atualiza outras partes do navegador com o novo código fonte do Firefox.

Recursos:

  • Substitui o engine  Gecko com o fork Goanna
  • Usa a interface  pré-Australis do Firefox
  • Continua o suporte adicional para plugins XUL, XPCOM e NPAPI
  • Suporta extensões e temas exclusivos de Pale Moon, como Adblock Latitude
  • Predefinições para uma página inicial personalizável em cooperação com start.me
  • Mecanismo de pesquisa padrão é DuckDuckGo, em vez do Google ou Yahoo!
  • Usa o serviço IP-API em vez do Google para geolocalização.
  • Suporte para um número crescente de extensões exclusivas Pale Moon
  • Suporte abrangente e crescente para HTML5 e CSS3
  • Suporte geral para formatos de imagem: suporta WebP e JPEG-XR
  • Suporta Tab Groups (nativamente, apenas Tab Buton, uma extensão tem que ser instalada para o grupo de abas)
  • Não usa Pulseaudio para tocar mídia no Linux

É bem menor do que o Firefox (apenas 36MB), e, é mais rápido do que as versões anteriores à versão 57 do Firefox.

Com uma interface completamente personalizável e suporte aos Addons Firefox, é uma ótima opção.

Waterfox

O Waterfox é um navegador de código aberto para sistemas operacionais de 64 bits, com o objetivo de ser rápido e ético. Existem lançamentos oficiais para Windows de 64 bits (incluindo uma versão portátil), MacOS, Linux de 64 bits e Android de 64 bits.

O Waterfox é baseado no Firefox e é compilado usando vários compiladores e usando a Biblioteca de Matemática Kernel da Intel, Streaming SIMD Extensions 3 e Advanced Vector Extensions. As compilações do Linux são criadas com Clang. O Waterfox continuará a suportar o recurso adicional XUL e XPCOM complemento que o Firefox removido na versão 57.

O Waterfox foi iniciado em março de 2011 por Alex Kontos, um estudante de 16 anos.

O Waterfox foi um dos primeiros navegadores de 64 bits amplamente distribuídos na web e rapidamente ganhou um seguimento leal. Em um momento, a Waterfox tinha uma coisa em mente: a velocidade, mas agora o Waterfox também tenta ser um navegador ético e orientado para o usuário.


Recursos:

  • Desativa extensões de mídia criptografadas (EME)Desativa Web Runtime
  • Remove Adobe DRM
  • Remove o recurso Pocket
  • Remove  Telemetry
  • Remove a coleta de dados
  • Remove o perfil de inicialização
  • Permite o funcionamento de todos os plugins NPAPI de 64 bits
  • Permite execução de extensões não assinadas
  • Remove abas patrocinadas na abertura de  nova página
  • Opção de adição de tabulação duplicada
  • Adição de seletor de locales em about: preferências> Geral
  • Mecanismo de pesquisa padrão Ecosia, em vez de Google ou Yahoo!
  • Não usa Pulseaudio para tocar mídia no Linux

Waterfox impressiona, é como um Firefox 55, com recursos muito bons, que o autor pinça dos lançamentos mais recentes do Firefox, sem entrar em situações conflitantes com a privacidade dos usuários ou o uso de recursos DRM, que limitam a internet livre.


Veredito

É muito interessante ver que o legado do Firefox, quando o Firefox era bom, não foi abandonado. Na verdade, uma das muitas vantagens do software livre é a liberdade de forkar aquilo que não se considera mais satisfatório, e, o Firefox 57, apesar de suas mudanças e muitas novidades, não é mais o browser preferido de muita gente (eu incluso). A Mozilla está jogando para a plateia, mas a plateia do Windows e do Mac, dificilmente para a audiência Linux. E, agora, parecem preocupados apenas em ganhar espaço do Google Chrome.

Mas, para todo mundo que deixou de preferir o Firefox, há opções. E, opções de alta qualidade.

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