terça-feira, 28 de setembro de 2010

As Corporações e Você: Quem é quem no Open source - Parte1

Estamos vivendo momentos cruciais para o Open Source: Oracle está processando a Google por patentes, Apple está lutando contra o Android do jeito que pode, ao mesmo tempo que alardeia que é uma empresa open source(falarei disso a seguir) e, a Microsoft dá declarações à imprensa de seu amor ao open source(hein ? WTF ?).
Diante de todo esse bombardeamento de notícias, factoides e meias verdades, como é que a gente fica no meio dessa encrenca toda ?

Para tentar entender esse imbróglio todo, vou fazer uma breve análise das empresas que trabalham com Open Source, e, comentarei como é seu relacionamento com o mesmo. A lista a seguir não é definitiva e nem abrange todas as companhias.

Pró Open Source
Red Hat: É a empresa que melhor sintetiza os ideais do Free, Libre Open Source no mundo. Tem sua distribuição paga, a Red Hat Enterprise Linux, e, uma distribuição gratuita, Fedora Linux,  focada mais no usuário comum e desktop. Há ainda uma distribuição comunitária gratuita, derivada da RHEL, CentOS, que é uma distribuição focada em servidores, mas, sempre desatualizada em relação à RHEL.
Nunca fez acordos que traíssem a comunidade Linux, não apoia a contaminação, seja do desktop, seja da área de servidores, com stacks alienígenas ao Linux, sendo fiel às quatro liberdades da GPL. E, mesmo sendo a virtualização um dos assuntos mais quentes da informática atualmente, a Red Hat disponibilizou o KVM em open source, depois de adquirir a companhia Qumranet de Israel. Por todas essas, Red Hat ganha o primeiro lugar.
Mandriva Software: Empresa francesa que nasceu da fusão da Mandrake Software com a brasileira Conectiva Informática, fica na segunda posição. Possui as versões free, one (ambas grátis) e a powerpack(paga em regime de assinatura).
A versão Free vem apenas com softwares livres open source, enquanto a versão One vem com um mix de softwares livres e alguns softwares proprietários e a versão Powerpack é a versão paga, que traz diversos softwares exclusivos, como o Cedega(para jogar jogos windows), e uma coleção de codecs proprietários para se ter multímidia out-of-the-box.
No setor de servidores, a Mandriva mantém uma distro enterprise com versões tanto para desktop corporativo quanto para server.
É uma distro madura, tem ferramentas fantásticas (uma delas, o famoso Drakconf) e, possui versões abertas e livres de seus softwares para a comunidade.
Não fechou nenhum acordo sinistro de licenciamento e se mantém fiel aos ideais das 4 liberdades da GPL.

Canonical: A empresa por trás do amado Ubuntu Linux vem na terceira posição.
Canonical Ltd é uma empresa privada fundada (e financiada) pelo empresário sul-Africano Mark Shuttleworth para a promoção de projetos de software livre. Canonical está registado na ilha de Man e emprega funcionários em todo o mundo, juntamente com seus principais escritórios em Londres, o escritório de apoio em Montreal e da equipe de OEM, em Lexington, Massachusetts, E.U.A. e Taipei, Taiwan.
A empresa possui uma linha de produtos em torno da distribuição Ubuntu, que é seu carro chefe. Seus produtos incluem:

  • Ubuntu, distribuição Linux baseada no Debian com desktop GNOME.
  • Kubuntu, distribuição Linux baseada no Debian com desktop KDE no lugar do Gnome.
  • Xubuntu, distribuição Linux baseada no Debian com desktop XFCE e otimizada para ser mais leve e rodar em hardware mais antigo.
  • Edubuntu, o núcleo Ubuntu melhorado especialmente para o ambiente educacional ou de clientes magros (Thin Clients).
  • Gobuntu (descontinuada), uma variante do Ubuntu consistindo inteiramente de software livre.
  • Lubuntu, o núcleo Ubuntu com o econômico e leve desktop LXDE no lugar do Gnome, para rodar em hardwares com baixas especificações(netbooks).
  • Ubuntu JeOS, uma eficiente variante do núcleo Ubuntu, desenhada para ser executada em máquinas virtuais.
Fora os produtos da linha Ubuntu, a Canonical tem mais alguns produtos Open Source, como Bazaar, Storm, Upstart e Quickly.
Agora, uma empresa que tem uma forma de distribuição gratuita de Linux (o Shipit), não tem versão paga para a distro desktop e é uma das mais amigáveis existentes, como pode estar em terceiro lugar ?
Explico: As estratégias da empresa, costurando alianças e acordos, pode prejudicar a liberdade dos seus usuários. Fechou acordo com a MPEGLA para licenciar o codec H.264, que é uma ameaça a vídeos livres na web, e, em qualquer lugar, devido as patentes envolvidas. Permite a contaminação do Ubuntu com o software Mono e suas bibliotecas (sobre o perigo do Mono, falarei mais adiante) e, por usar uma estratégia predatória para conseguir market share, as ações da Canonical devem ser observadas bem de perto.

Google Inc: A empresa número 1 em buscas aparece aqui numa quarta posição, e, surpreendentemente, melhor até que outra empresa de software (da qual falarei na sequencia).
A Google Inc é uma empresa bastante querida dos usuários em geral, possui bons produtos, um lema muito interessante (Don't be Evil) e, é sinônimo de competência com seus serviços.
A sua relação com o Open Source é muito boa, já que empresa sempre trabalha para disponibilizar tanto suas ferramentas como seus softwares em licenças abertas, para poderem ser utilizados por toda a comunidade. Possui duas distribuições Linux, Android, para telefones celulares e Google Chrome, a distribuição focada em computação nas nuvens(cloud computing).
Dois exemplos recentes da benevolência Googliana com o open source são: O padrão de comunicação Google Wave(que, infelizmente, falhou em atrair atenção do público) e o codec WebM, que a Google pretende que seja o padrão dos vídeos para o HTML5.
Porém, não podemos nos esquecer que a Google Inc não é uma empresa de software, é uma empresa que usa o software open source como um meio para atingir os seus fins. Assim, ela não é uma empresa open source. Alguns exemplos de tirania da Google são: o fechamento do CyanogenMod do Android(um mod do sistema operacional para celulares que trazia as Google Apps já instaladas) e as recentes conversas com a Verizon, que ameaçam a neutralidade da rede.  Claro que a benevolência Googliana tem suas razões, e, a maior delas é o data mining, essencial para o negócio de buscas e propaganda da Google. Por essas e outras, temos que estar atentos para que a Google Inc não se torne má(Do not become Evil).


Novell: A histórica empresa de Waltham, US, que foi uma das pioneiras da computação em rede, nos primórdios da computação empresarial, agora é uma empresa que fornece soluções baseadas em Linux e open source.
Linux foi um dos componentes chaves para a remodelação da empresa e sua adaptação aos novos tempos, pós Novell Netware, que foi um dos seus mais bem sucedidos produtos, nos anos 90.
Mas, não devemos nos esquecer que a Novell Inc não é uma companhia open source, mas, que viu no Linux e no open source uma oportunidade de se manter relevante, no acirrado mercado da computação cliente-servidor. Na verdade, a Novell tentou atrair os clientes de sistemas Unix e mesmo de seus sistemas Netware, no início dos anos 2000, já que estava havendo uma migração para outras plataformas.
Infelizmente, a Novell não teve muita sorte nas suas estratégias, ficando sempre atrás da Red Hat, às vezes no segundo lugar, às vezes no terceiro, e, por conta do fatídico acordo com a Microsoft, começou a atrair antipatia dentro da comunidade open source. Pior, ela ainda descuida de projetos open source para desenvolver linguagens e frameworks alienígenas ao Linux, como o Mono, que é baseado na tecnologia .NET da Microsoft, esvaziando o desenvolvimento de aplicações nativas para a arquitetura Linux.
A Novell ainda é a gestora do Suse Linux Enterprise e do Open Suse, que é uma importante distribuição Linux, e, por isso, deve ser muito bem observada.
Recentemente, diversos boatos de compra da Novell apareceram. Por isso, não é uma questão de SE a Novell será comprada por outra companhia, mas, quando isso irá acontecer.

Continua


As Corporações e Você: Quem é quem no Open source - Parte2

Continuação da parte 1


Neutras

International Business Machines, a centenária empresa de computação, com o foco voltado para a computação empresarial, é uma empresa com muitos projetos voltados ao open source: Eclipse, o framework, o desenvolvimento do kernel Linux, que a IBM auxilia com programadores contratados para isso, SElinux, Xen, dentre muitos projetos, os quais não cabem aqui.
A IBM começou a se envolver com o Linux em 1998, e, com o Linux, viu uma oportunidade de agregar valor ao serviço que já prestava. Como o Linux é excelente na escalalibilidade, desde projetos médios até projetos de supercomputadores, a IBM passou a utilizar Linux em suas atividades.
Em 1999, criou o Linux Technology Center, para integrar o Linux aos serviços que ela já prestava, como também para melhorar o kernel Linux para seus produtos. Um dos resultados  foi a disponibilização do kernel Linux para diversas plataformas: x86, mainframe, PowerPC, e mais recentemente, os processadores Cell(Playstation 3).
IBM encontrou no Linux uma ferramenta para continuar relevante no cenário da computação cliente-servidor. Ela não possui uma distro, mas apoia igualmente o Red Hat Enterprise Linux e o Suse Linux Enterprise em seus servidores.
Sendo uma empresa que tanto apoia o Linux, como aqui está classificada como neutra ? Há várias razões para isso.
A empresa apoia o Linux apenas onde ele é necessário para que ela tenha sucesso no mercado, não fazendo nada mais por ele. Bob Sutor, vp de Linux e open source, disse em 2009, que o Linux no desktop era uma batalha perdida.Ora, uma batalha perdida que rende alguns bilhões de dólares para a big blue, e, ainda a torna relevante no momento atual ? Nossa, um pouco de esforço pelo Linux como um todo seria bom, não?
Outro aspecto em que a IBM peca, e, se coloca em cima do muro, é a questão de patentes de software, na qual ela se diz uma empresa que apoia o Linux e o open source, e, ao mesmo tempo, é a favor de patentes de software. Recentemente, a IBM mostrou que poderia usar seu portfólio contra uma empresa que desenvolvia um produto baseado no emulador Hercules.


Yahoo:Yahoo, empresa de tecnologia, foi fundada por Jerry Yang e David Filo em janeiro de 1994 e foi incorporada em 1o março de 1995.
A empresa é mais conhecida por buscas online e serviços online diversos, mas, teve diversos projetos open source sob sua tutela(talvez o mais conhecido seja o Zimbra, servidor de e-mails / groupware open source compatível com o MS Exchange) , e, foi vendido para a VMware in janeiro desse ano.
Existem muitos outros projetos open source sendo desenvolvidos ainda pela Yahoo, tais como: 
Sendo o Hadoop, OAuth e o OpenID os mais famosos. A partir de 2008, a empresa sofreu uma tentativa mal sucedida de compra pela Microsoft, e, depois da substituição do CEO Jerry Yang pela sra. Carol Bartz, finalmente a Microsoft conseguiu tomar conta da Yahoo. Diversos projetos Open Source dentro da Yahoo foram extintos, colocando dúvidas se a empresa vai levar adiante seus projetos depois da tomada disfarçada pela Microsoft.


Neutra-Hostil

Nessa classe, temos apenas uma empresa. Mas, essa vale por todas. Diria-se que, com amigos como a Oracle, o Open Source não precisa de inimigos.

Oracle: Empresa fundada em 1977, por Larry Ellison, Bob Miner e Ed Oates, a Oracle sempre foi uma empresa de software proprietário, e, sua relação com o Open Source nunca foi das melhores.
Há 3 anos atrás, não tendo conseguido comprar a Red Hat, a Oracle criou uma distribuição Linux baseada no código fonte do RHEL, o Oracle Unbreakable Linux. Ou seja, não conseguiu o seu intento, mas, achou uma forma de se aproveitar do trabalho e da genialidade da Red Hat. E pior, ainda passou a oferecer aos clientes da Red Hat a sua versão de Linux, por preços muito mais baixos. Concorrência desleal é pouco. Recentemente adquiriu a Sun Microsystems e encerrou o sistema operacional Open Solaris, pondo em dúvida o futuro de diversos projetos Open Source que eram desenvolvidos pela Sun (MySql, Open Office, Virtual Box e outros).
Para coroar as desastradas ações da Oracle, em 12 de agosto de 2010, a empresa processou a Google, Inc por quebra de patentes relativas ao Java em sua plataforma móvel, o sistema operacional Android.
E, o próprio Larry Ellison declarou, em 2006: "Se um produto Open Source ficar bom mesmo, a gente vai lá e pega" , demonstrando que não teria nenhum escrúpulo em se aproveitar do trabalho da comunidade Open Source.

Continua

As Corporações e Você: Quem é quem no Open source - Parte3

Continuação da parte 2


Hostis
Finalmente, a categoria mais esperada. As empresas que, com suas ações(ou omissões) atingem o Open Source, com intento de destruí-lo ou descaracterizá-lo.


Apple: A empresa número um em gadgets (caros) de tecnologia, a Apple possui ligações profundas com o Open Source. Alguns projetos estão intimamente ligados a ela.
A Apple, obviamente, ama os projetos BSD, que lhe permitem sugar o que puder da comunidade, e não dar nada em retorno. Tanto que baseou seu MacOSX num núcleo BSD, colocando uma gui proprietária em cima (Quartz).
Mas, não é só isso: Webkit, o engine por detrás do Google Chrome, começou como um fork do Khtml, o engine de rendereização HTML do KDE.
A Apple se aproximou dos desenvolvedores do KDE em 2002 e se aproveitou muito bem do trabalho deles. Mas, como era de se esperar, na hora de incorporar o trabalho da Apple de volta ao código do KHTML, a empresa dificultou de todas as formas possíveis o acesso dos programadores do KDE as mudanças que tinham feito no código, pedindo NDA's e alegando estar protegendo segredos comerciais.
A relação ainda hoje não é das melhores, e, mesmo com a abertura de código do Webkit pela Apple(licença parte BSD, parte LGPL), ainda se teme pelo futuro do KHTML, componente essencial do browser Konqueror do KDE.
Mas, não é só isso. A Apple ainda possui um ponto vital para o Linux, o CUPS, o sistema de impressão adotado por todas as distribuições Linux, que a Apple passou a usar em 2002, no seu MacOSX, e, acabou comprando a companhia em 2007.
E, houve mudanças em sua licença, sendo parte LGLP, e, parte proprietária(após a aquisição pela Apple). Mas, mais uma vez se observa o hábito da Apple de se aproveitar do melhor do trabalho alheio, sem muita preocupação em dar algum retorno para quem o produziu.
E, não podemos nos esquecer que a Apple processa a HTC, fabricante de celulares asiática, por causa do sistema operacional Open Source Android. Então, é uma empresa que pode ser muito prejudicial ao Open Source.

Microsoft:  Microsoft tem uma antiga relação com o Open Source. Na época do windows 95/NT, o stack TCP/IP dele foi "inspirado" no BSD. Sim, a Microsoft ama o Open Source. Ama se apropriar dele, cobrar caro e não dar nada em troca para ninguém.
Mais recentemente, a Microsoft, num gesto de "boa vontade" com a comunidade, criou o seu próprio portal web para acomodar projetos Open Source, a Codeplex foundation e, já tinha há algum tempo um portal para desenvolvedores, o Port25.
Mas, que surpresa quando "apareceu" uma ferramenta para instalação do windows 7, que tinha código muito parecido com um projeto que estava hospedado no Codeplex. Que feio Microsoft, se apropriando sem nenhuma vergonha dos projetos no Codeplex foundation.
Mas, não foi só isso: Código sendo usado no supervisor de virtualização, Hyper-V, também tinha traços de cópia de projetos Open Source. O que a Microsoft, rapidamente, tornou uma "doação" para os drivers do kernel Linux.
No mesmo espírito de "inspiração" pelo trabalho alheio, Microsoft também se inspirou no Plurk para criar seu MSN Juku. Claro, teve que tirar do ar depois que foi pega com a boca na botija.
Há algum tempo atrás, processou a Tom Tom, fabricante de dispositivos GPS, sobre patentes de sistemas de arquivos.  E, recentemente, processou a Salesforce, de forma agressiva e não provocada, já que seu sistema de CRM não consegue competir com o sistema Open Source da Salesforce.
Isso sem falar dos acordos com Novell, HTC, Samsung, LG, que adiciona uma taxa "imaginária" de licenciamento de patentes, para que se possam usar projetos Open Source, dos quais Microsoft nunca participou e, jamais quis que prosperassem.
Fora o Mono/Moonlight, que é uma bomba de tempo, que habilita a Microsoft a tomar atitudes como o processo da Oracle contra a Google. Ou seja, se o Mono/Moonlight não for ejetado do ambiente Linux, poderemos ver, num futuro não muito distante, mais ações ridículas como a da Oracle.

Menções (dis)Honrosas
As empresas citadas a seguir são empresas que violaram a GPL em algum momento, ou continuam a violar até hoje.
E, esta lista pode mudar, a qualquer momento. Esperamos que aumentem as empresas amigas do Open Source e seguidoras da GLP.